JÁ SE AGITAM AS ÁRVORES
Um festim verde
Compacto, elucidativo
Um glorioso coração ardente
Que se agita suave e elegante
Como se fosse um paquete no meio das vagas;
Caem os primeiros pingos de chuva
Neste outono que vai anunciando
Acompanhado
Pelo balançar sincopado das árvores
Até aqui o albergue das agitadas aves
Pululantes no seio dos inúmeros braços floreados
Que se não atemorizam
Mas começam a escassear
e, sobretudo,
Esquivas e vulneráveis
Vão vagueando pelos dias cinzentos e chuvosos
De voo rasante na solidão ques erá mais negra
Mas expectantes
Do que a próxima primavera
Que há de vir
Lhe reservará…
O rio corre cândido e vagaroso
Serpenteando sublimes árvores que tanto o apreciam
Mas virá o tempo em que o rio
De corrente vigorosa e sublevado
Silenciará
As palavras,
O melodioso canto dos rouxinóis
E os ramos das árvores enfrentarão
A força e o vigor dos possandos arremedos de Éolo
E assim,
Paulatinamente,
Apercebemo-nos
Que começa a completar-se um ciclo de vida
Mas, entretanto, abre-se outro…
Para o ano estarei mais atento ao nascimento das folhas das árvores
Porque vê-las
Agora
A começarem a derramarem-se no solo
Faz suar a nostalgia pelos quentes verões
A compaixão pelo fenecimento
A grave ausência
O nada, que já não o é
Nem cousíssima nenhuma;
Quero ouvir-te coração verde
Quero ouvir-vos ó ninfas
Quero escutar a voz dos que a perderam
Porque partiram num final de tarde
Quero evocar essa voz
Que permanentemente ecoa dentro de mim
Enquanto viver ela não se perderá jamais!