Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

QUERO VER…SEMPRE !

Quero ver-te

Nem que seja um instante

Nesse minúsculo ponto concreto

Onde te possa admirar

Nesse altar que te ergui

Para que ilumines a minha alma

Tão iluminada

Tão cheia

Tão requisitada

Pela tua alma imensa;

Só ela me aquece

Com os teus grandes meneios

As suaves fraquezas;

Tão inigualável és nesses gestos 

Sistemáticos, afetuosos, agressivamente afetuosos;

Vens sempre dentro de um cálice

Que transporta o teu coração

A tua vida, toda a tua vida

Ao lado, está o vinho de que me sirvo para beber um trago 

Que bem de longe

E talhado nesse cálice a madeira dourada

Que cresce nas venerandas cepas

Que adoçam o seu sabor adocicado

E que se mostram progressivamente alcoolizadas;

Ao beber-te

Sinto a doçura dos teus lábios

A devoção do teu envolvimento

Essa tua fome de mim

 E eu de ti!

Essa grandiloquente luz

Que se acendeu na tua vida lá longe

Numa praia no Oceano Índico

É implacável e vertiginosa

Quando cuida da paixão

Que, em ti, é permanente. 

Queres ver-me

Quero ver-te

Para sempre!

NÃO QUERO ESQUECER AS VIRTUDES DA TUA LUZ

Dias quentes

Tórridos

Que bem podiam ser de entusiasmo

De entrega

De descoberta

De regozijo

Mas são, afinal, dias de engano

Neste longo verão

Que se arrasta, arrasta

Devagar, entorpecido

E surpreende-nos,

Ó se nos surpreende,

 Pelo outono que se anuncia

Habitualmente tão cinzento

Como o são os outonos,

Com as suas lindas cores

E nós como se fossemos girassóis

Erguidos na fama de um silêncio

Arrebatados pelas vestes

De um pintor que nos capta a alma!

 

 

AGORA

 

Agora que te surpreendes

Com a ausência da turba de amigos que julgavas ter

Agora que, tens tempo, para evocar o passado

E te ajuda a transcender-te nesta fase, vendo como transpuseste todos os obstáculos

Agora que vês que não consegues controlar a tua vida

Contempla, pois,

O voo do condor

Os velozes antílopes nas suas correrias na árida savana

O serpentear dos répteis por entre as ondulantes e precárias dunas

E vê como eles avançam sobre nós,

Sentindo a nossa humilde condição e fraqueza.

Cavalga esse equídeo musculado e fumegante

Que te poderá levar, outra vez, à leveza de uma vida

Mas, agora, meu irmão, meu amigo

Em plena peleja

De que vale ter tanto?

Vai, pois, cheirar as flores que se anunciam na, apesar de tudo, Primavera

Escutar as aves que se regozijam na entrega de um renovar da espécie

Usufruir do tempo que não tiveste, ou julgaste não ter,

Tempo que se esgota,

A cada instante,

Nesta prisão em que todos somos obrigados a viver.

 

Autor: Armando Almeida 

Incluído em:

Coletânea "Quarentena - Memórias de um país confinado", Chiado Books. Agosto de 2020

Quarentena.jpg

A MEMÓRIA SARA AS NOSSAS FERIDAS

Que quem escreve nas margens

De um lago chamado Desejo

E busca na memória o remédio para cuidar da alma

Vai traçando um plano

Que cuidará desse íntimo desarranjado

Que sofre assumidamente

Com uma voz amargurada

Mas acaba por ser capaz de se empolgar

De se emoldurar com uma voz

Linda, suave e tão musical

 Que acaba deliciando os nossos momentos

De vazio interior

Há, por isso, as “sílabas que se soltam”

Se juntam em palavras

Em frases

Que são como as casas

No universo das nossas cidades

 

DESCONTENTAMENTO

Esboço uma tentativa de olhar o frio

Faço-o porque quero mergulhar nele

E, para isso, nada melhor do que

Sentir o gelo a queimar a minha pele

Estreitar os meus ossos

Aumentar a minha resistência 

Através deste contato com o gelo

E não, não me venham desafiar

Para me deixar queimar indecentemente

Não…

Não me quero queimar

Debaixo daquele calor

Que saí de uma caldeira vulcânica!

 

MATRIOSKA

Que haverá em certas considerações

Construída por Homens, e para Homens,

Naqueles momentos de catarse   

Frases compostas por palavras  

Que acabam por provocar

Trejeitos dom a cabeça

Quando,

Parece,

Mesmo que o trato seja um nome fictício,

Que somos todos velhos conhecidos?

Puxo a enxada

Lavro a terra

Semeio o centeio

Que na colheita seguinte

Me dará os cereais

Com que farei

O poema,

A narrativa em conto

Ou simplesmente o relato

De mais uma matrioska

Cada vez mais pequena

Até que saí a última

E é ali que vejo

Enxergo aquilo que é o esboço

Da sua ínfima vontade!

Más há Homens

Que acabo por não ver nunca

A última matrioska…

 

DESISTO DE CONTAR HOY, PREFIRO ME CONTER, MAÑANA ME LEVANTAREI

Cerca de la verdad

Lejos de la mentira

Mirando hacia delante

Ele passado se apagou

Se quedó silenciado

Uña réstia de luz se anuncia

En la calada de la noite

Ele presente sigue acoplado

Exclusivo e solitario

Ao porvenir que há-de vir

Que, estoy cierto,

Me dará la verdad  

Essa misma verdad

Que transporto desde que nasci

La verdad que no se abate

La verdad que no se dobla

La verdade que busco com afán

La mentira que abomino

La mentira que me confunde

Con la pérdida de mi identidad

Pero, hóy,

Seguirei seguro,

Seguro

Solamente

Seguro

Con la verdad en las manos

E el corazon perdido y partido

Balançando entre

La minucia que me alimentará el presente

Pero también con el entusiasmo y el contentamiento

 Que me permiten viver el presente

Y decir en cada esquina:

- Haverá futuro…

Y Volverei, entonces, a sorrir

Como ya lo hizo el en passado

Municiado pela bravura de mis ideias

Cintilando los ojos

Del color verde

Color

De la verdad

UM SUAVE OLHAR QUE ACABA PERCORRENDO TODA A MINHA VIDA

Não sei se consigo contentar-me, arrogantemente, apenas com as palavras.

Poderei apenas fazê-lo assim: escrever ou dizer palavras, mas, ao fazê-lo, elas transformam-me imediatamente num ator, num protagonista, acabarão por me conduzir a um contexto determinado, a mim e a todos aqueles que possam ler ou ouvir. Uma coisa está conexa com a outra, e este é um dos grandes dilemas da palavra. Outra coisa bem diferente é a verdade factual que as palavras no permitem traduzir aquilo que acabamos por ver. E também, outra coisa bem diferente, a palavra permite-nos, no meio de um turbilhão de árvores que escondem a floresta profunda, revelar os nossos sentimentos mais profundos e íntimos, penetrando até às nossas emoções, despertando toda uma gama de desejos que enchem o nosso coração de orgulho.

Rir, meditar, desejar, falar, são tudo realidades que para se completarem têm que ter a proximidade corporal a quem desejamos, sentir o seu odor, os seus ínfimos pormenores, sem esquecer aquilo que parece ser o seu olhar com que nos mira, a admiração, o deslumbramento que nos causa quando a olhamos atenciosamente, e não é preciso que o seja na intimidade, uma simples visão dela a esvoaçar, complementada com as suas graciosas formas e a sensualidade que lhe é caraterística, é, por si só, o bastante para ficarmos rendidos a ela, nesse nosso olhar, que não se cansa nunca de admirar, sobre todas as suas belas formas corporais e que nos permitem desejar avistá-la o mais perto possível.

Uma borboleta passou agora mesmo à minha frente, solitária, colorida, com o seu voo que parece precário, mas capaz de percorrer grandes distâncias, e é essa borboleta que acaba por me revelar essa visão que acabo de ter.

Que fim terá essa borboleta? Chegará a emocionar outra alma? Contudo, ela acaba por desaparecer no meio da paisagem que me rodeia. Via-a, é certo, parecia que a tinha na mão, mas esvoaçou, foi-se, e afinal nunca a tive na mão, mas ao alcance de um olhar.  

Ficam-se, então, as palavras desse encontro fortuito com a borboleta!     

CADA INSTANTE DA VIDA

Cada instante que vivo

É-me dado por uma poderosa ampulheta

Com o meu nome inscrito

Que vai consumindo a fina areia

Que me foi dada ao nascer;

Não sei se desejo

Viver até ao último grão

Que passa de uma âmbula para a outra

Ou

 se quero despejar a areia toda e finar-me de vez,

Depende do que a vida

Acabe ou não por me proporcionar

Aquilo que eu,

Em cada suave instante,

Desejo sempre que ela me dê!

Hoje

É um daqueles dias

Que queria que a areia passasse a âmbula, sim,

Mas que a agreste manhã se fosse

E que a noite já se instalasse de vez…

 

 

Pág. 3/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub