DEIXA-ME CONFESSAR-TE
Quando te olho de frente
Vislumbro a tua alma
Que sempre me surpreende
O revigorar do jardim
Revolvendo a terra
Replantando-o
Com essas árvores e plantas que tanto desejas
Para exonerar o mal que há em ti;
Em certos dias
Exorbitas essa tua dorida voz
Derretes a fina camada de gelo
Que te arrefece o pensamento
E espera, então, que o sol cubra a tundra
Para avistares a planície
Que deixou de ser irrevogavelmente branca,
Rotundamente esquecida,
Para passar surgir aos nossos olhos de cor acinzentada
Funde a cor com o desejo
Veste a tua firme vontade
Com a força de um sonho
Um apenas
Não
Sucessivos sonhos
Que te limpem o olhar
Para celebrares a vida
Mas olha então para mim
Observa bem a camisa
Esta mesmo que trago vestida
E que adoro vestir
E vê que em cima do seu bolso
Que sempre vi como uma inutilidade
Esconde-se a alma
Alminha
Que emana do meu coração
Umas vezes presente, outras ausente
Que te é dado a conhecer
Indulgente
Derramando líquido
Em puro estado de ebulição
Sobre as maldades
Que, em mim, se sobrepõem
Aos ditames do Diabo
Do ufano mafarrico
Do glorioso e sábio belzebu
Que não se contenta em destruir as amarras com Deus
E que quer, à vida força,
Reunir as forças mais tenebrosas do universo
Para nos mostrar a força da libertação
Criativa
Libertadora
Mutila as castrações
Envolve os impedimentos
Reduz as coisas simples e resolúveis
A tua figura se confunde com a minha
Poder chegar até ti
E provocar um misto
De júbilo mais premente
Com a sedução mais íntima
Com a vontade mais gloriosa
E mesmo que amanhã já cá não esteja
Deixa-me viver o momento, este momento,
Pois ele é tão libertador
Para ti e para mim
Ver os teus olhos irradiar um brilho
No clímax, no auge da excitação,
Que acabam por regar o teu copioso jardim
Deixa-me celebrar essa vida que há em ti
Caminhar de mão dada contigo
Escutando as nossas preces mais íntimas
Acabar possuindo esse teu corpo alado
E quando terminar
Voltarei a querer, uma e outra vez,
Fazer amor contigo
Ouvir essa essa tua voz de filigrana
Que me faz esquecer os males que há em mim, que há em ti,
Voemos, pois, os dois no dorso de um cisne
Esquecendo a futilidade, a vulgaridade
Que torna tão baço o nosso olhar!