Um arreliador "of" do meu computador privou_me dele e dos documentos que ali conservo, poemas que vou escrevendo, espero que a loja, ou hospital, consigam conserta-lo rápido e também recuperem o que lá escrito, enfim, já devia ter juízo e ir passando tudo o que escrevo para um disco externo, mas ou se é bom na poesia ou se é sensato no dia a dia, as duas virtudes normalmente não andam juntas.
Prometo voltar o mais rapidamente possível e esta noite haverá escrita ao velho estilo : papel e caneta!
Mantém-se firmes suspensos sob as letras do teclado
Paixão? Amor à arte? Vício?
Ou vontade de afirmar e dar continuidade à alma?
Que, insana, grita, demencial em busca da glória!
Os meus pungentes dedos
Finos e longos
Que contemplo em cada mão
Parecem um arqueológo
Que busca, ufano,
Os vestígios do passado
Mas os meus dedos
Não procuram a existência material das coisas
Os meus dedos estão para além disso
Vasculham a palavra, a frase
Que melhor sirvam
A dimensão dessa minha memória
Da minha vivência
Das correspondência, ou não, afetivas
Gravadas nesse quadro interminável
Que regista a nossa passagem
Por esta vida!
Na noite em que tu
Buscas o sustento
Nos longos turnos de trabalho
Ou na interminável noite de insónia
Ou, simplesmente, pela veemência com que despertas
Para exaltar e perfumar a tua arte
Enchendo-a de palavras, de uma vida
Que são como um filho
Motivo de tanto orgulho dos pais
Deixa-me desafiar-te até às águas genuínas
Desse rio límpido das tuas memórias
Onde guardas a essência da tua alma
Onde guarneces os ríspidos momentos,
Ausentes das tuas entranhas fechadas no armário
E serpenteias pelas ruas onde só há a Razão pura
Onde o mundo material tem a sua plena justificação
Deixa-me ouvir a tua voz sentida
Profunda
Alada
Guarnecida dessa tua rica prosa poética…
Ethan Cohen
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DESAFIO
Estende-me aberta, a mão
Entrega-me de ti palavras
Que escorrem finas
De dedos esguios, esses teus!
Apanho-as ávida de letras
Sorvo-lhes o sentimento
Que me inunda a alma!
Quero palavras!
Como trovão que rasga céus
No macio escuro da noite
Rendo-me em escrita crua de mim
Essência despida de entrelinhas
Sou Mulher, afinal...
Onde prosa e poesia
São eternos amantes em
madrugadas longínquas.
Como chuva das monções
Deixo cair de mim
Sílabas à Solta:
O rugir dos sentidos
Espalhados em papel
Que o vento do sul
Há-de levar adiante.
Se houver quem capture
Papel cru esse
feito palavras despidas de mim,
Que sejas tu...
Que me rasgues toda a alma
Afagues palavras sentidas
Proves letras caídas
Despojos de guerras
Travadas em velhos mundos.
Quero palavras,
Sílabas tuas que como fera devoro
Casa tua, como minha,
jogo de espelhos onde te procuro
Frases em tempestuosas ondas
Que na borda do papel morrem.
Palavras em rodopio no ar
Apanho-as todas de ti
Dessas tuas mãos que me prendem
Escondo-as em mim, palavras tuas.
Entrelaça esses dedos teus
Nos meus
E leva-me por letras tuas
Às Artimanhas do Diabo
que resgatam almas perdidas...
Sandra
(Nota: da Sandra, claro: “Um dia, alguém me desafiou a participar em algo novo para mim, algo chamado de Poema a quatro mãos. Etan Cohen deu inicio ao desafio, escrevendo no seu blog "Artimanhas do Diabo" o poema "Os dedos". As palavras que aqui partilhei foram a resposta por mim dada a esse seu poema de tanta intensidade.) .