A GARUPA
A garupa
Não o faz por menos
Não se limita a deambular pelas águas agitadas
Perscrutando,
De olhar de predadora,
Onde estão as espécies
Que atraem a sua insaciável cobiça
Nas águas escuras e agitadas do atlântico.
A garupa
Deambula
Procura
Sustém a respiração
Oculta-se
Para logo atacar com violência
Sem dó nem piedade
Tragando
Com aquela bocarra enorme que a natureza lhe concedeu
As presas que ela identifica
Como comestíveis!
A rapariga,
Vá-se lá saber porquê,
Foi-lhe dado o nome de Silenciosa
Ávida de mostrar ao mundo
As formulações poéticas
Que saem dentro de si
Intrinsecamente complexas e densas;
Levita pela blogosfera
Munida de martelo na mão
Daqueles que conseguem sulcar os mais duros veios da pedra
Destruindo paredes e esculturas multiformes
Porém,
Destruir à bruta e desalmadamente
Não se coaduna com quem
Se quer apresentar ao mundo
Plena de cultura e de sapiência
Assim, Ela, ou é afinal bruta por natureza,
Ou faz-se e se o faz é porque se quer regenerar de alguma coisa, será?
É certo que as suas investidas
Acalmam a sua ira, a sua frustração
e até, no limite, podem ser criativas para a própria;
Ela
Adora destruir, sulcar, reduzir a pó
O que se lhe atrevesse à sua frente
Rindo-se febrilmente
Dos mais frágeis que são apanhadas nas suas garras…
Pode até ser o que a rapariga quiser
E necessitar de ser naquele momento
Desde que o risco da boa convivência
Não seja pisado e ultrapassado;
Desde logo,
E como uma marca que é indelevelmente reconhecida por todos:
O respeito pelo que os outros elaboram e constroem
Lendo muito bem também o que escrevem sobre nós
Colocando-nos sempre numa posição
Que não nos cegue com a soberba
Do nosso próprio olhar
Mas apreendendo com o olhar dos outros sobre nós!
E quando a obra começa a fazer sentido
A descobrir-se a sua essência mais ou menos controversa
Até, na sequência do seguimento perfilhado pela língua latina,
O próprio género de quem escreve:
Feminino e masculino
Pois o neutro desapareceu da língua portuguesa,
Eis que surgem os arautos
Que perscrutam e perseguem
Nas águas turvas e profundas
As espécies mais fragilizadas
Ou as que ali são obrigadas a posicionar-se
Porque a linguagem e a comunicação das espécies
Ali, naquele local tão profundo do oceano,
Onde a pressão é de facto um problema
Faz destes predadores
Seres que estão prontos a apoucar o que fazemos;
Mas quando a nossa obra
Nos concede um certo contentamento e orgulho próprio
Até pelas palavras que os outros vão tecendo sobre nós
Dos muitos que nos visitam
Pergunto:
Onde estão essas espécies que pescam na profundidade?
No medo?
Na ira?
Na vingança apenas?
Pois…
Parece que Ela, então, está à espera do nosso próxima percalço:
Fragilidade
Confissão
Ou esquecimento de algo
Para se posicionar como predadora que é
Que se alimenta destes enredos
E que circula
Livremente
E como é difícil agarrá-la
Como difícil é sempre agarrar as pérfidas e oleosas enguias
Apoucando-nos sem réstia de piedade!
Entretanto, a garoupa
Nas profundezas do mar
Acaba tragando um pobre e temerário sargo
Que se atreveu a nadar nas águas mais próximas!