A truculenta saga de D. Sancho e suas proezas marialvas - 5ª parte - *
* Escrito em Sesimbra em 1990.
O MAR DOS ZIMBROS
Deixa-me ver-te
Pequenina e esguia
Terra de tão boas práticas marítimas
Nessa enseada côncava
Que amacia o olhar
Porto seguro e abrigado
Donde se avista o mar longínquo e rasgado
Que nas noites de intenso luar
Veste as suas melhores indumentárias
Para nos acompanhar nessa viagem noturna
Mostrando-nos, lá longe, as luzes que se anunciam
Desse sonho antigo
Do porto de águas profundas: Sines!
Vejo o sargo
Que se agiganta à chaputa
Vejo o goraz da pedra
Tão raro como delicioso
Reluz o plebeu salongo
Que preanuncia o nobre imperador
Pescadores que marcham inclinados
De balde na mão
Espalhados como sardinha pelas ruelas da vila
Habituados a velejarem
Nesse mar sem fim e oblíquo
Que parece que vai engolir todas as embarcações
Mas acabo por me confrontar
Com uma frase talhada na pedra escrita por Raúl Brandão
“Pescador de Sesimbra…
Regula-se pelas estrelas e pela malha encarnada da serra…”
O mar essa infinidade que impõe respeito
Como um deserto imenso
Onde cabe tudo
Até os sonhos e os amores mais difíceis
Porque a tragédia é eminente e cerca-nos
No deserto, como no mar,
É onde avaliamos as nossas forças e as nossas fraquezas
Pois sobreviver ali
É um dia de cada vez
No deserto, como no mar,
Também há amor, também há paixão,
E dada a magna infinidade
De cada um destes lugares
O amor, a paixão, a tragédia
Não conhecem moderação
São estupendas manifestações
Da Alma
E é aí também que ela se revela e brilha eterna!