EDUARDO LOURENÇO
Choram as fragas eruptivas
Flamejam as faces rosadas do Eduardo
Lamentam-se os choupos
Predizem as falas profundas do Lourenço
Debata-se a terra negra e árdua
Vizinha, tão vizinha, desses penhascos altivos
Num exercício frontal
E tudo para receber esses ossos cansados
Que descansarão no eterno
Das letras com que pejaste vida tão cheia
E, em vão,
O vento soprará agreste e subversivo
Sobre as tuas palavras
Gizará caminhos novos para novos filosofares
Pois,
Portugal precisa tanto de ti
Vestem-se as cabras com o seu traje de gala
Tocam os sinos a rebate
Elogiosos, declamativos
Naquelas palavras com que tu costuravas sempre a frase
Para anunciar o dia em que resolveste desistir
De ti e dos outros
Do vazio que não se define em palavras
Expressam as flores as suas máximas condolências
Agora que já cá não te têm para as cheirares
E levitam já no ar lamentando a tua ausência
Ouço na longínqua memória
Essas tuas palavras prenhes e sibilantes
Que assinalam a rudeza da tua origem
Mas como elas se assumem cada vez mais sábias
Afinal, o saber, o conhecimento, vem da serra
Das fraldas das serranias que anunciam a muralha lusitana
Mas os teus pensamentos
Vêm de muito longe
De terras distantes e maduras
Eles são a voz pura da portugalidade
Desde Pessoa que não se ouvia voz
Tão resoluta
Afirmativa
Sábia
Erudita
Sobre Portugal, os portugueses
E a sua incessante busca identitária
Nas ervas crescerá essa tua essência
E como já sinto esse odor místico das tuas palavras
Até as flores já se lamentam da tua partida
Até os famintos lobos uivam
Saudosos já da tua ausência
Os faunos que se passeiam pelos bosques
Tocam flauta
Tentam olvidar a tua desistência
Até o seco Viriato se lamenta da tua partida
Portugal só sobreviverá
Com o legado imenso que deixaste atrás de ti
Mas…Eduardo…chegou a hora da despedida
E eu não vejo a hora, nem as palavras exatas
De apropriadamente, me despedir de ti
Por isso, dá-me essa tua face rosada
Deixa-me beijar a genuína sabedoria
Portugal ficará
Imensamente mais pobre
Com a tua partida
Para essa terra, como dizias,
De nada
Nem de ninguém!
Com a devida vénia, curvo-me perante tal figura!