Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

EDUARDO LOURENÇO

Choram as fragas eruptivas

Flamejam as faces rosadas do Eduardo

Lamentam-se os choupos

Predizem as falas profundas do Lourenço 

 

Debata-se a terra negra e árdua

Vizinha, tão vizinha, desses penhascos altivos

Num exercício frontal

E tudo para receber esses ossos cansados

Que descansarão no eterno

Das letras com que pejaste vida tão cheia  

 

E, em vão,

O vento soprará agreste e subversivo

Sobre as tuas palavras

Gizará caminhos novos para novos filosofares

Pois,

Portugal precisa tanto de ti

 

Vestem-se as cabras com o seu traje de gala

Tocam os sinos a rebate

Elogiosos, declamativos

Naquelas palavras com que tu costuravas sempre a frase

Para anunciar o dia em que resolveste desistir

De ti e dos outros

Do vazio que não se define em palavras

 

Expressam as flores as suas máximas condolências

Agora que já cá não te têm para as cheirares

E levitam já no ar lamentando a tua ausência

 

Ouço na longínqua memória

Essas tuas palavras prenhes e sibilantes

Que assinalam a rudeza da tua origem

Mas como elas se assumem cada vez mais sábias

Afinal, o saber, o conhecimento, vem da serra

Das fraldas das serranias que anunciam a muralha lusitana

Mas os teus pensamentos

Vêm de muito longe

De terras distantes e maduras

Eles são a voz pura da portugalidade

 

Desde Pessoa que não se ouvia voz

Tão resoluta

Afirmativa

Sábia

Erudita

Sobre Portugal, os portugueses

E a sua incessante busca identitária

 

Nas ervas crescerá essa tua essência

E como já sinto esse odor místico das tuas palavras

Até as flores já se lamentam da tua partida

 

Até os famintos lobos uivam

Saudosos já da tua ausência 

Os faunos que se passeiam pelos bosques

Tocam flauta

Tentam olvidar a tua desistência

Até o seco Viriato se lamenta da tua partida  

Portugal só sobreviverá

Com o legado imenso que deixaste atrás de ti

 

Mas…Eduardo…chegou a hora da despedida

E eu não vejo a hora, nem as palavras exatas

De apropriadamente, me despedir de ti

Por isso, dá-me essa tua face rosada

Deixa-me beijar a genuína sabedoria

 

Portugal ficará

Imensamente mais pobre

Com a tua partida

Para essa terra, como dizias,

De nada

Nem de ninguém!  

 

Com a devida vénia, curvo-me perante tal figura!

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub