AO OLIMPICO SUL
Veneranda vastidão
A enxergar, a contemplar
A infindável planície
Plantas amofinadas
Terra seca acinzentada
Que parece tisnada
Magna planície
Aqui e ali suavizada
Por majestosos chaparros
Que por estas paragens são monarcas!
Para ti cantando sempre
Nessa polifonia de vozes
Em que intervêm
O ponto
O alto
E, invariavelmente, o coro
Que interpreta
O cante que simboliza a estrutura coletiva
Que contraria o individualismo
Única maneira para combater
Tamanha dureza de vida
Roupas negras trajando
Rolam pela calçada
O cante que lhes saí da alma
Que soa pelas potentes gargantas
De homens sérios e honrados
Envoltos nesse olhar terno
Respeitoso
Já quase sem esperança
Perfilados
Marchando sincopadamente
Como se fosse uma suposta frente
Evoluindo na planície
À procura do seu íntimo legado
Cordas vocais afinadas
Em que perpassam
Estruturas musicais muçulmanas
Ritmos gregorianos
Ou simplesmente
A alma genuína desse povo
Que foi sabendo resistir às sucessivas secas
Ao isolamento
Enganando a fome
Com o multifacetado pão
O abençoado azeite
E as ervas que sempre crescem na planície
Alimentadas pelas chuvas que vão caindo no inverno
Sem rogar nada a ninguém
Vivem na sua altivez estrutural
Apenas a mão direita
Se assume submissa
Colhendo o chapéu
Executando a vénia
A quem por eles passa
Que nos demanda
Tamanha ousadia
Alentejo
Grandeza portuguesa
Que se vê do firmamento
De linhas retilíneas
Alentejo
Que vai evoluindo
Vai crescendo
Para o destino desértico
Que se assume como profético
Mas Alentejo
Puro
De forte odor a terra
Árido, selvagem
Alentejo
Em paz
A multiculturalidade portuguesa
Desaparecerá
Se fenecer de vez
O Alentejo!