ESTRELA VIOLÁCEA
Ter-te
Só para mim
Avassaladora e penetrante
Imagem
Simplesmente imagem
Apenas isso
Olhar ao longe
Vislumbrar
Esse vestido
Em tons violetas
Que trajas
Ajustado ao corpo
A tua própria pele
Acoletada
De tons arroxeados
Indagar as tuas adiposidades
Reverenciar as linhas eróticas
Postular os sinais que pululam o teu corpo
Caminhar pelos bosques que te rodeiam
Dotados de ervas odoríficas
Mesclados de árvores frondosas
A cor e os odores que se misturam
Excedente que perpassa para os sentidos
À espera do canto solitário e único do cuco
Que soa esperançoso e penetrante
Vem de longe e anuncia a primavera
Perscrutar as reentrâncias e saliências que há em ti
Como se fosses a acidentada linha costeira
Fustigada pelos ventos
Corroída pela fúria do mar
Que guarda os segredos
Da partida das caravelas
Que ao mar se faziam
Para espalhar a fé e engordar o Reino
De belas e exóticas possessões
Que nos encherão de brilho nos séculos vindouros
Uma espécie de ereção coletiva
Que, inesperadamente,
Foi interrompida
E feneceu de modo trágico para alguns
Na segunda metade do século XX
Chamo-te
Ao mesmo tempo que apresso o meu passo
Procuro chegar-me a ti
Acompanhar-te nesse teu caminhar
Indolente
Livre
Sonhador
Fantasista
Erótico
Mas não sou capaz de te alcançar
Parece que quanto mais corro
Mais me distancio de ti
Acabo rendido ao vestido que trajas
Objeto do meu desejo
Transpirado
Faço uma paragem
Tento recuperar forças
Ouço a água que corre de um declive próximo
Aproximo-me
Colho gotículas de água
E salpico-as sobre o meu corpo
Retomo o olhar
E vejo a esfinge violeta imóvel
À mesma distância de quando me imobilizei
Deparo-me com a surpresa
Não consigo alcançar a imagem
Mesmo correndo
Fustigando-me
Vejo-a apenas como se fosse
Uma estrela a brilhar no firmamento
E no exato instante
Em que a quero agarrar
Já lá não está
Afinal, a cor violeta do vestido
Conduz-me à reflexão
Me atazana e confunde
Fico-me, enfim, pela sensação que nada sei
Acaba permanecendo a imagem
Silenciosa, brilhante e solitária
Pouco terrena
Nada real
Que dela emana
Antes,
Cobiça dos homens
Que a querem ter
Atraídos pelo brilho cintilante
Que erradia permanentemente
Mas não suportam o seu caráter fugidio e forte
Que repele quem não lhe quer bem
E os homens
Apenas querem o bem de si próprios!