NA ANTECÂMARA DA SOLIDÃO
Sentir o brilho dos teus olhos
Aproximar-me ainda mais
Visioná-los
Tão robustos e cintilantes
Descortinar as cores luminosas
Que deles cintilam
Como se fossem um lindo arco-íris
A beber água de um riacho próximo
Como me haviam dito em criança
Teu perfume intrigante
De mulher entorpecida
Hibernada
Ferida na sua alma
À deriva
Nesse mar encrespado de contraditórios sentimentos
Que, lentamente, se vai adensando sobre mim
Fragrância adocicada e permanente
Remetem-me para uma meticulosa construção
Como se fosse uma peça de fina porcelana
De mulher maviosa
De voz envolvente
Que se alimenta de carícias
E eu não me canso de a evocar
Mesmo que o tenha de fazer
Recorrendo às suas próprias palavras
Murmuradas numa espécie de confessionário
Aonde me confidenciou
Entre dentes e timidamente…
Mas, eu quero mesmo é imaginar-te
Nessa tua intimíssima massagem
De olhos cerrados e topete escanzelado
Na entrada da gruta
Com essa varinha de condão
A tatear moderada e cautelosamente
Essa caverna escura e seca
Mas que já foi o orgulho dele
Mas,
Experiente giesta
Dançarina voluptuosa
Que se maneia ao de leve
Sob o compasso do vento
Inebriada pelas quimeras
Enlevada pelas recordações
Tão vitais como únicas
Quedar-te-ás
A emulsionar a esbranquiçada água do mar
Que tanto desejas
Tão bem conheces
Te delicias
E tanto prazer te deu
Mas,
Coito subitamente interrompido
Quando o mar irrompeu medonho
Flibusteiro
Opaco e acinzentado
Querendo apenas penetrar-te
E sem querer escutar a tua voz
De raiva e de asco
Perante a traição!