AREIA FRÁGIL
Não me digas que não
Diz-me, antes, que sim
Ou até se calhar…
Olhei-te com esmero, dedicação e carinho
Chegada a um impasse
Acabaras por erguer um muro
Ludibriada e desgostosa pela vida
Fraquejavas a olhos vistos
De pé, sim, de pé,
Mas muito fragilizada
Esforçada, mourejada até,
Para me lançar um sorriso verdadeiro e sentido
Os teus olhos eclodiam em incontidas lágrimas
Semblante sério,
Acentuadamente desgostoso,
Convenceste-te que ele simplesmente
Te trocara por alguém mais jovem
Ao conheceres os pormenores da traição
Ao escarafunchares
Nas longas noites sem dormir
Desnuda na cama
Esmoreceste, ainda mais,
Como o sol de inverno
Mas com ele deitado
No mesmo leito em que dormias
Desejava-lo ainda mais
Com esse sentimento vigoroso
Da vontade que só a mulher sente
Pelo homem da sua vida
Mas, de cada vez que cedias e te deixavas seduzir pelos encantos dele,
Mostravas, no final, sério arrependimento
Tinhas receio de que tudo aquilo resultasse apenas do desejo carnal dele
De te possuir, apenas,
Mas dele escutavas simplesmente os seus silêncios
Quando, na verdade, o que tu querias ouvir
Eram as suas palavras, razões, pensamentos e projetos futuros
Mas ele continuava com aquele olhar silencioso
Com que olhamos para dentro
Intuíste que os pensamentos dele estavam na outra
Mais jovem e atraente
E sem te deixares cair
Projetaste o futuro só
Decidiste partir
Mas, de cada vez que pensavas em sair,
As pernas tremiam-te
As lágrimas corriam ainda mais pela tua face
Mas tímida e desconfortável
Escondias o teu pranto dele
Como os lobos fogem do afã predatório dos homens
Passaste a fugir das suas investidas noturnas
Antes, sempre tão suscetível,
Perante aquele corpo que tão bem conhecias
E que tanto desejo te infundia
Começavas a fraquejar, a definhar
Não eras mais a mulher segura de si
Mas um frágil ser que se atormentava
Com a simples ideia de uma separação
Mas viste um sol cintilante
Ouviste as palavras ternas e refletidas de um verdadeiro Amigo
E o que antes era a tua força
Essa ideia de te separares
Pela vil traição dele
Os incentivos do Amigo
Acabaram por te animar a questioná-lo
Conseguistes desassossegá-lo
Mostrastes-lhe vileza nas manifestações afetuosas
Até que uma profunda declaração de amor dele
Te fez regressar outra vez à mulher que foste outrora
E nessa noite desabrochaste outra vez
Voltaste a senti-lo todo no teu ventre
Apeteceu-te fundir o teu corpo com o dele
O teu coração incendiou-se
Pelas labaredas que irradiavam do coração dele
Pelas palavras densas e profundas
Que, a cada movimento, penetravam pelos teus olhos dentro
Viste-lhe o brilho, uma e outra vez, do seu olhar
A querer dizer-te o qunto te amava
E na hora em que ele explodiu dentro de ti
Viste uma luz intensa nos seus olhos
Como um vulcão a explodir!
Acabaste a projetar férias, viagens
Outra vez a tua vida cingida à dele
Repastos a dois na companhia de tímidas luzes
E confissões de amor
Como se fossem vozes a acompanhar o canto gregoriano
Terminaste por adormecer enlaçada nos braços dele
Nesse dia confessaste-me a tua conquista
E tão entusiasmada estavas
Que, de cada vez que falavas,
Tremiam-se-te as pernas
E as palavras saiam trémulas e oscilantes
Mas, naquele momento,
Voltei a ver a flor areada
Irradiando múltiplas cores
Prenhe de odores inebriantes
Voltaste a ser a terna miúda
Em busca desse pai desaparecido lá longe
E que, frequentemente,
Ainda se questiona se realmente ele pereceu!