O LAGO
Se de frente olhasse
A captar com o coração
Todos os indeléveis vestígios
Que se escondem debaixo daquelas águas
Podia ser muito mais do que feliz!
Se vislumbrasse,
Mesmo que fosse por um instante apenas,
O que as águas daquele pequeno lago
Arredondado e empedrado
Circundado por um fofo tecido verde
Podia ser muito mais do que feliz!
Mas se eu pudesse ver as rochas
A terra negra
Que jazem no fundo do lago,
Pasto cobiçado pelos vermes
Repasto excelente de tantas aves,
Podia ser muito mais que feliz!
Se eu pudesse ver o que se esconde
Para além das sombras que reluzem na água
Podia ser muito mais que feliz!
Se eu pudesse ver
As moedas que jazem no fundo do lago
Cada uma um desejo,
Então,
Arremessaria cada uma das nossas vontades,
Com a paixão de um sacristão
Que retesa a corda do sino
Para anunciar ao mundo as horas,
E podíamos, assim, ser muito mais do que felizes!
Mas se eu pudesse,
De mãos dadas,
Olhar a paisagem contigo
Ver refletida na água do lago
A realidade que é sempre mais bela
Então poderíamos ser, ambos, muito mais do que felizes!
Mas se os dois pudéssemos
Arremessar a mesma moeda em simultâneo
Facetada com os nossos rostos
Supreendendo o mundo
Ensinando-lhe:
Fácil é o amor
Quando imenso
É mútuo o desejo
Ficaríamos, pois, com as palavras
Testemunho dessa nossa paixão,
Como se fosse o amor do rouxinol pela liberdade!
Afinal, ama-me, como eu te amo,
Neste lago apalavrado que ambos construímos
Onde cada palavra é um desejo
E o poema o sentimento que não acaba jamais!