Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

BIC

A velha

De transparentes paredes

Esferográfica

Exibe-se sem temor

Nem pudor

Expõe-se, simplesmente expõe-se, 

Como deus quis que ela viesse ao mundo

 

Quando lanço sobre ela um olhar

Sinto-lhe, desde logo,  

A sua macia intimidade

E não há roupa interior que lhe valha

 

Permanentemente,

À razão do completar de uma estrofe,

Lanço o meu olhar

Libidinoso

Até à velha caneta  

Que repousa na minha secretária

 

E tenho uma réstia de esperança

Que ela possa voltar a ter a sua utilidade   

De quando, no passado, escrevia

Velhos e novos poemas

Quando a esferográfica

Entrelaçava-se na minha mão direita

E com jactante excitação

Me permitia chegar a uma espécie de transe

E acabava numa explosão de sentimentos  

Semelhante a um orgasmo!

 

Mas, hoje, está algo esquecida

Jaz estendida

Ao lado de um livro

Que guarda poemas de múltiplos autores 

Nas proximidades de velhos e avulsos papéis

Que, de vez em quando,

São rabiscados pela velha esferográfica

De pequenas anotações  

 

Desde que deixei de praticar

A minha escrita diária

Com a ajuda da velha BIC

É sob o teclado que prossigo  

A minha atividade de escrita diária   

Ajudado pelo vigor dos meus pensamentos

O desembaraço dos meus dedos

Que nunca se dão por vencidos

 

Os dedos ajudam-me à excitação

Que experimento quando escrevo

Prolongam o meu deslumbramento

Deixam-me com o coração a bater

Num ritmo sincopado

Que me faz ver para além do que escrevo  

 

Por fim, vem então o clímax derradeiro 

E é quando acabo

Que vejo que cheguei ao fim da linha

E dou por terminado

Vício tão empolgante e exigente  

Como é a escrita    

 

Outrora, escrevia muito

Escrevia bastante  

Mas fazia-o no remanso

Das sombras da frondosa ramada 

Que tanta inspiração me deu

Sob a tinta da velha caneta

Com o mesmo fulgor

Com que hoje escrevo no teclado  

 

Não sei se escrevo

Melhor ou pior hoje

Do que quando escrevia sob a batuta da BIC

 

Sei, sim, que a BIC não me concede mais

O tipo de sentimentos

Que outrora me revelava 

Mas, a verdade,

É que eu também não sou mais o mesmo

Do que quando escrevia com a velha BIC!  

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub