Pégaso
Sub-reptício
Esvoaça nas noites frias
Na gruta onde
Pendem os meus eremíticos sonhos
Preenchendo esses buracos negros!
Relincha
Esbanja
Cilindra
Prenhe de ventura
Subjuga-me
Repetindo
Incontáveis vezes
Da essência de que sou feito:
Imaterial solidão!
Noite após noite
Ampara esta alma
Que se aborrece
Do tédio das companhias,
E acaba seguindo
O sopro de Éolo
Adornando a vertigem
Derretendo a razão
Tranquilizando-me!
Acordo
Em mais uma manhã
Para seguir mais um dia
Para finalizar com mais uma noite
Inquebrantável;
Solidão que me guia
Como uma estrela
Que não consigo prescindir
Estendo-me na areia
Contemplando
O mar azul turquesa
Leve
De silêncio sepulcral
Que
Treme
Como gelatina
Acabada de confecionar
Mas não se abate.
Maceras
Utilitária
A maçã
Mas, antes,
Rodopiaste a casca
Descascaste-a
Acabaste sulcando o tenro fruto
Apoteose de um futuro
Que vai deslizando na candura
De uma forma cilíndrica;
Com pequenos dedos
A manusear
A contemplar a frescura da casca
Balançando de emoção
Trincas, pois,
Pedaço a pedaço
A tentação!
Escapas-te
Da luz do dia
Desapareces
Escondeste-te?
Foges, unicamente, foges
Dessa luz forte
Que te queima o olhar de menina
Clareado
Fantasioso
Que te deixa esvoaçar na noite
Como um pirilampo
De brilho garboso
Para não seres esmagada
Pelos que se querem apoderar do teu coração
À noite
Vingas-te de todos eles
Vês
Sentes
Desejas
Anseias
Amas
Reservas as palavras do dia
Para à noite glorificares essa alma enorme:
Saudades que emergem
Dentro de ti
Como cogumelos
No outono
À volta dos troncos das velhas árvores
Memória que não se dissipa
Perscrutando o nevoeiro que se adensa
Pesado
Emerso na fronteira entre o sonho e a realidade;
Palavras
Alimentícias
Que se alimentam
Dos teus pruridos
Extasiados
Nessa tua Fé dos Homens!
Palavra
Navegando voluptuosa
No oceano da prosa
Vai modelando e moderando os teus ímpetos
Palavra
Mergulhando nos mistérios
Da escuridão abrupta
Das profundezas do oceano
E é aí
Que dás corpo à excentricidade
Extasiando-te
Nesse teu refúgio
Abaixo da linha de água
Nadando com os peixes
Que,
Surpreendidos,
Contemplam a tágide
Que,
De vez em quando,
Saúda a cidade
E toda a extensa plateia
Que lhe dá vida
E, sem olvidar,
Esse, em ti, êxtase sublime,
Olhar de pássaro
Mirando desde a suprema serra
O mar
Ora prateado, ora azul, ora esverdeado,
Tateando o céu
Brincando com os esquilos
Os amigos
Na vida de uma criança solitária!