Escolher
Tramitar
Enveredar
Apoiar
Solidificar
Viver!
Esta máscara
Indomável
Infindável
que nos cobre o rosto
Oculta-nos as feições
E esconde as nossas verdadeiras intenções;
Máscara
Que vai assassinando
À distância
Sem revelar
O semblante do exterminador
Que nunca assume as ações
Destituídas de razão
Eivada de uma imensa loucura!
Os olhos revelam-se
Deslumbrantes
Cintilantes
Sedutores
Refletindo cogitações
Que nos acicatam interiormente,
Mas contemplar assim
O mundo
Como tu o fazes
Naquele brilho azul
Gélido
É tétrico
É ardil
Voraz
que faz de ti um carcereiro
Que não quer a nossa liberdade
Para não perder a sua
Mantende-nos aprisionado na masmorra!
Fazes razão de vida
Deleitas-te na fé,
Na solidão
Que é onde eu moro
Vida empedrada
Difícil e espinhosa subida
Não se amofina com o silêncio
Não se esgota
Em vagos aplausos e reverências
De ocasião
Ri-se
Dos ardis
Dos que buscam
Apenas
Ser
O que o Sol é para a Terra
Mas não há Homem
Que se compare a essa estrela
Tão magnânima
Como essencial
E que tanta vida dá
Na Terra!
Montemor-o-Novo o destino
Fiz-me à estrada
Galguei quilómetros
Serpenteie serras
Domadas por autoestradas
Desci à lezíria;
Para trás a floresta
Vigiada por Melros
E, de quando em quando,
Um cuco
Que se fazem ouvir neste norte
Carregado de prontidão
Porém,
Em plena várzea
Já não ouço os mesmos melros e cucos
Mas,
Chega até mim esse som inconfundível
Das aves que,
Aos milhares,
No bulício dos dias
Atraem os caçadores
Que as vendem à socapa
Nos mais variados sítios.
Ainda o Alentejo não se vislumbra e anuncia
E os desejos
Os meus desejos
Mais indeléveis mas tão premiáveis
Fazem-se ouvir neste meu cansado interior
Onde o silêncio impera há muito:
Campos a perder de vista
A verde
Tigrados de vermelho
Que se balançam
Na ode cantada de um vento
Que quer fazer das papoilas exímias bailarinas;
Mas tão imperial desejo
Não se cumpriu
Este ano em abril...
Não havia papoilas no Alentejo
Havia sim
Esses barqueiros da planície
Tão diretos e leais
Que acabaram por me levar
Ao Santuário de Nossa Senhora da Visitação
Onde milhares de imagens pululam as paredes
Do que podia ser
Mas não é
A sacristia
De onde ressaltam as mais variadas ofertas dos devotos!
O santuário
Implantado naquela colina
É o farol incansável
Que vigia a linda cidade de Montemor-o-Novo!
O santuário?
Mostra-se ao mundo
Naquele branco
Cinzelado
Pelos traços da firmeza de um forte azul
Que me acalmam da ausência das papoilas
E casam na perfeição desta minha visitação
Que bem podia ser celebrada
Com o vermelho das papoilas
Mas que o foi
Com o branco e o azul
Ao estilo
Manuelino-mudéjar
Do expressivo santuário
Que alberga duas culturas
Tão caras ao Alentejo!