Que tarda em compreender o seu papel atual na minha vida:
Nenhum!
Ó meu amor
Deixa que a paixão flua normalmente
Deixa corar esse manto
Coroado de estupidez
Na relva mais fresca próxima do rio
Para o purificar
Arranca sem hesitações
Foge dessa luminária
Desse inqualificável
Ladrão de almas
Que te enfraquece
Que tudo te roubou
Não queiras que te subtraia mais um quarto de século de vida
Foge dessa afrontosa nuvem negra
Que tapa esse sol
Que te devia tão bem iluminar
Deixa que as ondas desse mar
Limpem a areia dessa praia
Afastem as sujidades mais imundas
Mesmo que seja teu lixo
Que já não o queres
Mas que ele teime
Em recicla-lo
Para to dar em doses cavalares,
Uma suave lembrança
Aflora ao meu corpo
Na hora em que vislumbro
Aquela espaço ajardinado
Repartido
Pelas águas serenas
De um velho riacho
Que divide o espaço
De um lado
O caramanchão dos amantes
A felicidade dos sabem amara
Do outro
A bestialidade de quem não sabe o que é o amor
E se esconde naquele matraquear
Permanente
De que é ridículo…
Mas,
Amor,
Ridículo
Mesmo
É achar que o amor
Não se exibe publicamente
Apenas nas frestas escuras
Das noites de intimidade
Onde até a luz se apaga
Para ser,
Enfim,
Mais casto o amor assim!
Tourear “al alimón” é quando dois matadores lidam em simultâneo o touro com um único capote; há também um célebre discurso proferido a duas mãos, entre Lorca e Pablo Neruda, em homenagem a Ruben Dário, descrito por Pablo Neruda no livro "Confesso que Vivi".
Atazanado pelo amofinado espaço temporal em que alguns personagens vivem o seu dia-a-dia, e que dão a impressão de uma existência venturosa, onde o nada é o principal ingrediente, acabo provocado pelo inenarrável bocejo que se escapule da boca, como se fosse um secreto gaz que se evapora sorrateiro sem se preanunciar.
A luminosidade que emana do ecrã do computador faz-me concentrar toda a atenção sobre a página em branco, que me transmite uma sensação de alvura, como se tivesse caído um forte nevão que jaz no solo à espera de ser pisado por mim.
E, enquanto os meus olhos se acomodam àquele baluarte branco, dou por mim a iniciar o meu trajeto na suave e fofa pista branca, deixando atrás de mim os traços distintivos dos meus passos com que vou galgando o caminho sem rumo que vou encetando no contato com a neve.
Até que, ao fim de algum tempo, mais a deslizar e a tentar equilibrar-me, do que propriamente a caminhar com firmeza, chega-me às narinas um bafiento odor, que todo o súbdito que se preze sabe, desde logo, identificar, que é um sinal indicativo que o Príncipe dos Lugares Comuns está por perto: roupas impregnadas de naftalina; logo de seguida, surge a sua impagável figura, formosa e renitente, à minha frente, a que se junta a sua real tonsura, digna de egrégia realeza.
E, no seguimento desta minha recente derivação reflexiva, puxam-me os meus sentidos pelo vagar fluir da minha veia artística, que alimenta a minha espiritualidade. Eis-me, pois, no centro desse pindérico reino de tão maligno aborrecimento, e é aqui que dou por mim a magicar no que surge à minha frente; mas vejo mesmo ou imagino ver? É-me indiferente, pois enquanto estou envolvido com uma dúvida do tipo cartesiana surge triunfante um esboço de um pigarrear, daqueles tipicamente nervosos, e que logo se assume como fala, a qual, na ótica do Príncipe dos Lugares Comuns, significa:
- Estás mesmo a pedi-las!
Isto é, uma fluente diatribe, em tom de ameaça, que escangalha o torpor de um qualquer ilustre cidadão, mas que a este Príncipe dos Lugares Comuns lhe faz cintilar os olhos, mofar e ficar escarlate, esboçando o seu ostensivo cartão-de-visita, dignamente representado pelas armas e os barões dos seus nobres antepassados, e que é uma das suas divisas: o simples fazer cria uma inevitável desconfiança; não lhe restando outra alternativa que não seja simplificar com a exclamação:
- Não…
E continuando logo de seguia:
- Está sossegada…não vês que estou a ver um programa muito interessante na televisão…o que pretendes agora é ridículo, isso faz-se mais logo, no leito conjugal, não aqui neste sofá!
E ao Príncipe nem lhe façam chegar, ó santo vitupério da malignidade, laudas impregnadas de criatividade, pois a exímia consciência do Príncipe dos Lugares Comuns, complementada pelo seu apurado espírito crítico, que mistura estados de alma aliados com o torpor totalitário, apenas consegue produzir o lugar-comum, isto é, a página dedicada exclusivamente ao profissional excecional que se preza de o ser, pois quanto ao pendor criativo, só se for para manifestar o grande amor que nutre pela ficção cinematográfica que o ajuda a embalar a carência do seu dia-a-dia e que, inconscientemente, é já como se fosse uma vida para ele, pois tudo o resto resume-se a denodada desconfiança de quem acha que é uma manifesta perda de tempo, uma idiotice, dedicar a sua atenção a algo que não passe exclusivamente pela dinâmica audiovisual, tecnologia, programação, e então, senhores, quando este Príncipe dos Lugares Comuns observa um afago, um beijo, mesmo que seja ao de leve, em público irrita-se sobremaneira e nem lhe falem de escrita criativa e muito menos romântica, que se lhe afigura pomposa, gongórica, tão negativamente sentimental, aí, minhas senhoras e meus senhores, o Príncipe dos Lugares Comuns veste a indumentária mais pesada e surge cotejado de sua malha metálica, eivado por cortante e seca fala e, sem papas na língua, dispara!
A este Príncipe dos Lugares Comuns foi-lhe administrada uma educação patrocinada por uma mãe que andou uma vida inteira a correr para a sacristia, e cuja única ambição era ter o poder, ali onde, além de outros mistérios, se guardam os óleos da unção dos enfermos, de ser ela a lavar as peças mais íntimas do sacerdote, conhecendo-lhe, desde logo, todas as suas agruras intestinais, digo, fraquezas mais privadas, que também os sacerdotes as têm, tão humanas como qualquer um de nós! E este Príncipe dos Lugares Comuns foi alimentando ao longo da sua existência uma parafernália de amputações às mais vis insinuações que antevissem o seu quê de libertinas, cobrindo tudo pelo convencionalismo mais ortodoxo, proferindo corretivos simples e diretos, cultivando os exageros próprios de quem acha que a essência da vida é a eficácia e a objetividade, e que para isso procurou estar rodeado de uma extrema secura afetiva, pois nunca esteve pelos ajustes em perder o seu tempo com demasiada verborreia quando pode usar, e até na sua ótica é assaz recomendável, uma formula matemática para traduzir o pouco que lhe está ou vai na alma!
O preferível, na ótica do Príncipe dos Lugares Comuns, é não dizer nada, é até a manifestação que ele prefere e mais usa, deixando o seu interlocutor na dúvida do que ele quer. E só quando pressente que os sinais são pouco lisonjeiros para as suas pretensões, lá lhe sai um ditote munido de um adjetivozito que, está convencido, é redentor para a seca deixada pela travessia do deserto, que os seus mais próximos se vêm constantemente a braços diante dele, fruto das suas conceções filosóficas mais castradoras, servido pela bocarra de um velho dromedário. Quem dele espere, por mais pequeno que seja, um benevolente milagre que protagonize algum tipo de verborreia, que não passe pelos meros lugares comuns, que se esconda, se disfarce, ou pura e simplesmente se iluda a si próprio, porque o Príncipe dos Lugares Comuns, não condescende, efetiva-se, contenta-se, à boa maneira de um compositor que acabou descobrindo a sinfonia da sua vida, quando ativa aquela função, tão temível como respeitável, e que só os eucaliptos têm nesta vida: secar tudo à sua volta, no seu caso suga com a sua falta de iniciativa e só dá um arzinho da sua graça para censurar quem se digne pôr mãos à obra para executar alguma coisa.
Longa vida ao Príncipe dos Lugares Comuns grita-se por aí, mas esta expressão está carregada de um fundado temor, pois os súbditos já não o suportam, têm apenas pânico ao desconhecido, e há, contudo, um séquito de aduladores, que se concentram naquela faixa dos que temem as suas reações ou o receio do que venha a seguir, convictos das suas qualidades, mas que não imaginam o que é viver o dia-a-dia sob o jugo do férreo control