Deixo-te
Para trás
Não em definitivo
No encalço,
Como é meu timbre,
Da largueza de espírito
Para que me deixes
Embalado numa ode
Graciosa e carregada de heroicidade
Inscrita na minha memória
Como se ela fosse
Mesmo que em décadas da minha existência
Um dia apenas
Da minha vida!
Um ano de 2023 mais venturoso e melhor do que o que foi o ano de 2022.
Quem tiver a gentileza de me ir seguindo, com a paciente militância de me ler bimensalmente, espero contar com a, como gosto, vossa discreta presença.
Rosh Hashaná para os que seguem os rituais judaicos!
Um Bom Ano a todos os outros, são os votos deste humilde servo
Etan Cohen
Das tuas mãos
Flui uma timidez
Arejada e simples
Que parece de menina,
Os meus olhos
Miram-te profundamente
E acabam submetidos às ondas de luz
Que iluminam a caverna escura e fria
Que subsiste na solidão
E que sobressai
Por trás dessa tua frágil folgazona!
Ardis
Fogosos
Vigorosos
Semânticos
Pensamentos
Fixam a cor adamada dos meus olhos
Que sorriem
Esboçando um olhar cúmplice
Que revigora o vulcão
Que em ti habita;
De tão nobre senhora
Nunca esboço uma despedida
Pois contigo sinto que o dia não se encerra jamais,
Tremem-me as pálpebras
Agita-se a respiração
Ao vislumbrar-te
Com esse teu harmonioso cachaço
Tuas mãos de pequeno tamanho
Que tudo querem agarrar
Para tentar salvar o mundo
E em tudo que tocam
Transformam em puro prazer…
No teu garboso caminhar
Deixo-me contagiar pelo seu balançar
Ereto, mas movediço,
Que me envolve o pensamento
Deixando-me devoto
De tão profundo grito
Que não se apaga com o vento
Que se eriça
Em crescendo
Deixando-me nos teus braços
Que me aquecem
Com essa tua chama
Nesse entardecer prolongado
De verão
A espairecer
Sereno
Até que a chama se extingue
Mas a paixão
Essa nunca se apaga!
E vós
Minha nobre e inspirada senhora
Que fazeis adejando na planície alentejana
Por entre o tapete verde
Cobrindo
Como o musgo as pedras
O solo ensopado das chuvas de inverno?
E,
Debaixo de tímido raio de sol,
Estava tão nobre senhora ereta
Em frente a uma mesa de madeira
Elegante e risonha
A deliciar-se com uma rápida refeição
Trespassada de exóticos sabores naturais
Religiosamente guardada no interior de um recipiente de plástico…
E quando a nobre senhora regressou da viatura
Trazia em cada uma das mãos duas piquenas clementinas
Com o pé da árvore agarrado ao umbigo
E acabou depositando-as
Em frente de cada um dos comensais
Que acabaram refastelados a consumir
Paulatinamente
A graciosa e sumarenta sobremesa;
Por fim,
A minha nobre senhora
Não se contentou com o repasto
E arrolou o trauteio daquela velha música:
“Oh My Darling Clementine”,
Que me deixou lacrimejante
Desse passado longínquo
De quando ouvia a canção
E nem imaginava sequer que um dia
Haveria de conhecer as clementinas
Que nascem nas árvores
E que alegres ficam
Quando se abrem ao mundo
Para doar os seus maravilhosos gomos
A quem as quiser apanhar!
Esboço de uma vida
Prenhe de existências
Sinto que caminhar contigo
Por entre as pedras da calçada
É partilhar o amor no estado puro
Esmiuçar todas as tuas palavras
Que saem desses teus belos lábios
Que, como desejos escondidos,
Se sentem em cada momento
E que pulsam na torrente de uma vida dedicada a cuidar dos outros
Sorrir
Embelezar as floreiras
Com as lindas flores que não se limitam a existir
Mas que servem para celebrar o amor
Em ti
Não há limites
Não há barreiras
Há, sim, dizeres
Que, por muito que doam,
São como nascentes de água cristalina
Pura, absorvente, inigualável
E de cada vez que te observo
Que sinto a tua presença
Que cheiro a tua presença
Vejo a linda luz da ilusão
Dessa imensidão de um céu estrelado
Que se vê
Que se observa
Mas que é inalcançável
Colho das tuas palavras
A inspiração de um arrebatamento
Como se fosses esse lindo alfobre
Onde as lindas flores
Não se atrevem a existir
Mas se esmeram em cuidar
Dos sentimentos dos outros.
Tu
Que nunca partes
Que nunca estás ausente
És uma formosa flor
És uma estrela cintilante
Nessa constelação de sentimentos
Que vive dentro desse teu lindo coração
Onde não há lugar
Para o ódio
Para a vingança
Apenas amor e compaixão
Assim és tu!
A ruga
Que,
Todas as madrugadas,
Tão bem interpela
A minha memória
Não nasceu da minha vontade
Mais, escapuliu-se por entre os meus sonhos,
Como pó que vagueia sem se deter
Rumo infindável
Por entre a areia do deserto
Que a quer ocultar
Sem resposta e ausente
Ao que me suscita
Um tão tremendo vento
Que sopra de noroeste
Agita as vagas
Encrespa o mar esquecido
Que já não mora na minha cabeça
Como estrelas que cintilam na noite fria
Mas há muito explodidas…
Deixa-me, pois, só
Com a minha coletânea onírica
Onde perdura a ausência
Transparece a nitidez
Mas onde a vida
Se amortece com reminiscências
Que há muito me atormentam
Sem que eu possa
Escancarar a porta da minha alma
Sem que eu me deixe deslumbrar pela doce noite
Que dura apenas uns instantes
E o esquecimento
Perdura
Perdura
Para além do entendimento!
Cerceando a nossa vontade
Despegando das nuvens
Que parecem coladas aos céus
Para desabar no solo ressequido
Que engole as primeiras bátegas
Com a sofreguidão de um dromedário;
Uma torrente gigantesca
Preenche aquele vazio até agora inexistente
E percorre as nossas vidas
Tanta água para quê?
Uma chusma de gotas de água
Se abate sob as nossas cabeças
Despertam-me
Espantam-me
E deixam-me perplexo
Ainda
Com a pujança da Mãe Natureza
Que faz o que quer
Não se limitando a seguir o curso que os rios querem
Que os homens querem
Ou não
Mas que caí
Como um clímax colossal
E que quando vem
Ainda atormenta
Quem dela não se prepara
E, ciclicamente,
De cada vez que uma chuva mais forte nos visita
Eis que se ergue
Em cada um de nós
A desconfiança
Dos míticos dilúvios
Deixados na Palavra escrita
Que os homens escreveram em nome da divindade
E ouvem-se as vozes ressoar
Nos dias cinzentos e sem fragor
Para se abater sobre as nossas vidas
Esse castigo imaterial
Que,
De vez em quando,
Nos fustiga
E que parece ressoar num murmúrio imenso:
- Todos os pecados serão castigados!
A pairar extasiado
Percorro por entre as brumas de uma nuvem
Que me segue
Como o destino,
Acabo deleitado
Pelo regaço
Adormeço debaixo do calor
Que me envolve como o de uma mãe
Observo-lhe o rosto
Que sempre me espanta
Aquele olhar arrebatado
Cintilante e provocador
Que me emudece a alma
E me deixa enlevado
A contemplar no infinito
Da tua fronte solta
Que alimenta o meu ardor
Teu cabelo caído sob os teus ombros
Trazendo a esperança
De uma vida
Que nunca mais esquece
A quem alguma vez a contemplou
Tens o vício dos alvores
Que se anunciam todas as manhãs
Sem fim
Inesgotáveis
Tuas pernas
Macias e frescas
São braços de heras no meio da floresta
Transportando a frescura e a ternura
Das suas folhas
Que são palavras como palavras numa frase
Ramos de rosas que não esquecemos
Dos teus lábios soem emergir
Lindas palavras
Que me soam como o de um canto
De um omnipresente cardeal
Com a sua poupa vermelha
Companheiro dos caminhantes
Do Sertão brasileiro
Que abrem fendas na paisagem
E que nunca se olvidam do peito que os enrubesce,
E é então que quero permanecer envolto na neblina
Apreciar o teu formoso passo
Que ilumina as minhas noites de solidão;
Vejo-te
Como uma flor que se agita aos leves toques do vento
Que aqueça aos primeiros raios do sol
Que não se afasta nunca do seu querer
E
Em tudo o que toca
Transforma
O vulgar
O cinzento
O negrume
A palidez mais intolerável
No incomensurável poder do ouro
Pois
Em ti
Tudo é para acontecer
Tudo pode acontecer!
O amor que te tenho
Não me demove
Não me esmorece…
Pois,
Ele dá-me força e convicção
Concede-me razão de viver!
Embora a minha voz derrape
Nas inclementes emoções
Intimamente confesso-me:
Tu és a luz insubstituível
Que rasga os céus
Iluminando a noite
Inspirando a suprema paixão
Tão presente numa alma
Que tanto quer afirmar
Mas é incapaz de o dizer!
E quando deixei de te ter
Que fiz eu da minha vida?
A minha vida tornou-se um agreste deserto;
Escorres das tuas mãos
O lento suor esgotado
Iças as extremidades das secas searas
Que se anunciam em cada verão
Revolves as folhas esquálidas nos dias cinzentos de outono
Reacendes os caminhos talhados na rocha
Por onde a água que caí das nuvens
No seu passo acelerado
Se entrega a dar alento,
Enquanto escalo a árvore da vida
Roço, ao de leve, na extensa folhagem
Que todos os anos enrubesce
Os doces troncos que alimentam a vida.
Deslizo, em silêncio, pelo gelo
Distendido ao longo da montanha
Abro as minhas mãos
Até ti
Ressoa em mim o teu nome
Grito-o bem alto
E é então que
Esquivo
Começo a lamber as minhas feridas
Sustendo a culpa
Revigorando a complacência
Aceitando o que a vida me dá em cada momento:
Mas sinto tanto a tua ausência!
“Los sueños no viven en el país de la memoria, sino en el del olvido, son la memoria del olvido, es decir, el secreto”.
Olvido de Granada
Juan Ramon Jiménez
Abri
Circunspeto
O baú do esquecimento
Nesse mar obscuro e tangente com a imortalidade
Esbracejando sem sentido
Vincando esses segredos que povoam a minha alma
Enlevei-me
Enfeitiçado
Pelas harmoniosas ancas
Deslumbrei-me a observar as plácidas coxas
Devorei os sequiosos lábios
Contorci-me a tatear a língua
Deslizei até aos arbustos
Que dão cor à tua Alhambra,
Serpenteei pelas finas
Deslumbrantes
E empedradas
Calles
Da mítica cidade
Que viu partir o último califa
O rei Boabdil
Derrotado pelos reis católicos;
E quanto mais me embrenho na tua sequiosa pele
Quanto mais subo até aos teus cimeiros bairros
Quanto mais antevejo
Em cada recanto
As curvas da arquitetura árabe
As casas simples e lajeadas
Onde pendem formosas flores dos seus vasos
Eis que perpassa pelas minhas narinas
O fresco odor da alfazema;
Granada vive,
Pois,
Na arca do meu esquecimento!
Pero,
En uno instante,
Echo un vistazo hasta la graciosa figura
De Federico Garcia Lorca
Al rubro
Se vá acercando
El viejo sabor de la memoria
Los molinos qué giran
El viento loco incandescente
Qué rompe corazones
La lucha entre el bien y el mal
Protagonizada por el torero e el toro
Pero,
Ya vislumbro el caballo en la colina
Tu voz
Deslumbrante
Tu gracioso entusiasmo por vivir
Inseparável
De tu poesia
Y asi descanso en paz
Al toque suave de mi Granada
Onde vivi toda la ventura!