Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

O TURTUOSO ESCREVEDOR DE CARTAS

gettyimages-685675164-612x612.jpg

Veleidade

Arcaboiço

De vaidade de si próprio

Arfar com a sua inteligência

Cortante e sulfurosa

Que agride gratuitamente

Quem dela se acerca;

Adora pular

Transgressivo  

Nas auroras dos dias quentes 

Arreganhado como uma hiena 

Emproada

Alimentada  

Da fétida podridão  

A evocar  

O mal que os outros fazem

Oculta  

Nas palavras escorregadias

De sílabas que se repetem

A titubear gaguejando,

Vagueia  

Sem descanso

De vigília em vigília

Na cruel excitação  

De aprisionar uma frágil rês

Acaba atolando-se

Na chafurdice  mais imunda!

Nobres animais

Os leões

Atacam de frente

A hiena

Essa busca a presa

Frágil e perdida

Ora, sob as ilhargas  

Ora, disputando a carcaça pejada de insetos

Que os velhos leões

Há muito abandonaram!

Vives abominando o canto das cigarras

Enredado no fluxo de uma atroz secura de sentimentos  

Tiritando de pensamentos  

E sem se cansar 

De vaguear

De rua em rua

De casa em casa

Como um saudoso entregador de cartas  

Largando

Em envelopes esbranquiçados

Os lamentos

Adjetivando  

Com blasfémias

O que apontas

Como a razão para todos os teus males!

E como quererias ser

O nobre e ruidoso Leão

Mas teu desígnio é rir

Escondido

Petrificado

Como uma hiena

Na pradaria selvagem…

CANTO DE ROUXINOL

 

gettyimages-558235303-612x612.jpg

Bela fronte

Ampla e florescente

Me vai inquietando

Sempre

E que tanto abastece

Minha exaltação de viver

Dela

Brota a água cristalina

Que

Tantas e tantas vezes

Acabou suavizando  

As tardes de luz intensa

De calor abrasador

Mas que

Hoje

São meras recordações

De dois frondosos limoeiros!

Mas de ti

Vem

De uma assentada

Até mim

Uma resplandecente luz

Que ilumina o meu caminho

E que até

Embala num sorriso

O mosto das uvas

Deixando o mais sincopado

Ser

Que foge dos seus afetos

Como o diabo da cruz

Concedendo-lhe a bênção

Que o animará nessa grande paixão

Que, todavia, permanece encrustada

Na sua delicada pele!

Mas teimoso cabelo  

Domado a duras penas

Pela velha escova

Que tenteia teus cabelos

E que envolve a tua fresta

Dividida na floresta silenciosa

E naqueloutra 

Onde brotam as flores

Que são o teu canto de rouxinol.      

  

POR ENTRE AS PAPOILAS

 

poppies-4246241_640.jpg

 

Por entre os queixumes de um vento

Que se agita empolgado

Nesse Monte

Que não é serra

Não é planície

Nem sequer planalto

Avistam-se os alvores

De mais um dia que chega

Raiado a vermelho no firmamento

Ouvem-se uns ténues bramidos empáticos de uma mulher

Que vê chegada a hora

De todas as esperanças

Mesmo que a sua vida seja

Um amontoado de uma eterna solidão

Que se reflete no espelho à sua frente

Não há paixão

Ali

Não há retorno

Apenas amor maternal

Fraterno e justo

Que ajudará a dar à luz

Desta vez uma menina

Uma princesa

Que será marcada pela agitação

Dos tempos silvestres e pródigos

Da primavera

Que se não se destapa

Não foge

Não se transfigura

Não se silencia

Perante o torpor dos longos invernos

Que tolhem certas pessoas  

Nascidas em signos mais invernais  

E que, por isso,

Falam mais consigo próprios

Do que com o universo que os viu nascer

E nem mesmo nos dias mais felizes da sua existência

Conseguem produzir mais do que uma simples menção

Seca e destemperada

Desenxabida

Que, se bem se entenda,

Não se compreende a usura com que tratam os afetos!

Mas tu princesinha

Vieste ao mundo

Para seres igual a ti própria

Mulher que não dá por perdido

Nenhum instante

És como o arado que sulca a terra

Faça sol ou chuva

Cortas a direito

A terra

Separas o trigo do joio

Arrefeces aquele ardor que as plantas sempre exibem

E no final

Salvar-te-ás tu

Mulher abençoada

Forte como uma deusa

Meditativa como uma pitonisa 

Sagaz como uma sacerdotisa celta

Tu serás

Aquilo que quererás ser

Varrerás as ilusões

Dispersarás as quimeras

Proliferarás a riqueza que trazes dentro de ti

Vieste ao mundo a 20 de abril

Para ganhares todas as batalhas da vida! 

 

COMBOIO AZUL

depositphotos_141037012-stock-photo-south-africas-

Quando

Partir

E passar

A linha

Onde grassa a escuridão sem fim    

Noite pesada

Imensa

Seca

Carregada de conchas negras

Ali, onde a terra se espraia

Como o mar:

A borbulhar

A esventrar

A areia fina

Ouvir Blue Train

Do John Coltrane

Quero  

Ladear-me

De todos os cães

Que me acompanharam ao longo da vida

A viajar  

De silhuetas coladas a mim

Ladrando infinitamente

Sentir todos os momentos de felicidade!

Viajando

Em busca

Do lugar perfeito

Que nos seja tão caro

Tão justo

Tão inesquecível

Só nosso

Onde eles

Me possam ter

E eu a eles

Para vivermos

Todos os momentos

Em que não podemos estar juntos!

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub