Glosei em cima do poema
Deixei-me trespassar pelas palavras
Entusiasmadas
Apaixonadas
Que iam saindo dessa tua boca
Melodiosa
Bondosa
Que rogava por um corpo quente
Que afagasse o teu
Anos e anos a fio
Conservado nas intempéries geladas
Onde os silêncios são uivos
De alcateias famintas
Que se movem nas espessas camadas
De gelos
Eternos
E amaldiçoados
De um vento
Que desperta perplexidades
De uma solidão
Impossível de se redimir;
Quiseste tudo
Mulher
Mãe
E filha
Mas restou-te
Apenas
A grata figura de mãe,
E a de mulher apaixonada;
Há muito que perdeste a inocência
Da mulher que há dentro de ti
E quando te libertaste
Um grito de alívio suou no teu interior
Pois
Começavas a trilhar
O caminho da salvação!
Que dizer
Desses tempos memoráveis
Bem lá atrás
Em que nós
Jovens
Esbeltos
E carregados de sonhos
Nos assombrávamos
Em avistar o mar
Esse sonho longínquo e tão português
Nas suas inúmeras
Formas
Matizes
Desse miradouro
Universal e altivo
Da falésia onde se formou
E aí
Não nos cansávamos de contemplar a pitoresca vila
Que de um lado
Se ungia com a Justiça dos homens
E do outro
Negociava toda a espécie de pescado
Que permanentemente para ali acorria
Para ser anunciado
Naquele linguajar único
Que só quem ali vai todos os dias
Está habilitado a saber o que dizem!
E do mar
Carregado de linhas
Rotas mais ou menos perdidas
Por onde desde tempos mais ditosos
Os navegadores marearam:
Nós ou milhas náuticas
Saboreando os penhascos adjacentes
Que suportam a costa
Ou simplesmente contemplar
O azul deste mar
Suspenso
Da espuma branca
Que lhe outorga a respeitabilidade
Do senhor idoso
Nas terras por onde Camões tanto suspirou pela sua amada pátria!
Todos os dias
Acorrem aos meus pensamentos
As vozes dos “Pexitos”
Marotos e ternos
De redes a consertar nas ruas da vila
Rodeados do odor perfumado a peixe
Dessa vila que conservo na minha memória
E que voltas e reviravoltas que dê na minha vida
Lá está guardada no baú das minhas ternas recordações!
Que dizer
De ti
Menina doce
Cara de anjo
Bela das mais belas
Que subitamente desapareceste
E que todavia continuas envolta
No mais profundo e pesado
Silêncio?
Nem a esfinge egípcia
Se te compara em mistério;
Malignas criaturas
Aproveitaram-se da tua feliz inocência
Trataram de subir aos céus
À tua custa
Tu
Menina
Excelsa
Que assim o serás
Até à eternidade
Esfumaste-te para sempre
Numa noite igual a tantas outras…
Quiçá, uma daquelas estrelas
Que brilham no firmamento
Transporta o teu olhar
Que é uma admoestação
Que restará guardada no livro
Bordado a oiro acetinado na capa
Para ditar
A nossa culpa coletiva;
Caminhante
Não esperes por ti nem por mim
Escuta a tua íntima voz
Pois
Quem humilde a ouve
Sábio caminheiro é
E chegará ao destino
O qual nunca o será
Pois quando o alcançar
Abrir-se-á a porta de outro
E assim sucessivamente,
Por isso
Caminhante
De olhar arrefecido
Tanto na vida
Como na morte!
Entrego nas tuas mãos
O septo de uma vida
O sonho
A fantasia
A realidade
O Viver
Com a dura realidade
Das pequenas frustrações
Do quotidiano
Nos teus lábios
Pouso os meus
Deslizo os meus dedos
Pela tua pele eriçada
Entrelaço as minhas vontades
Com as tuas
Suaves e simples
Que assustam
Quem nunca verdadeiramente amou
Podem condenar-te
Ao desprezo
Ao rancor
Às humilhações
Que encontrarás a força do amor
Que tudo submete
E transforma nos desígnios dos desejos
Que tornam a vontade
Firmeza da alma
Luz incendiária
Que não se compadece
Com as vacuidades da carne
Com a baixeza das traições
E mesmo usurpando os lugares
Que são da sua pertença
Nunca obterás para ti
Esse coração
Que
Há muito
Deixou por ti de bater
O gelo queimou-o
Sem que alguma vez
Te questionasses por mim
A ti
Uma ténue linha de água
Acaba correndo
De súbito
Para o mar
Não é sequer digno de um simples riacho
Quanto mais um rio
Carregado das vontades
Que carreiam as vidas
Mesmo as mais utópicas
Que são desígnios
Da força das grandiosas majestades
Que habitam nas alturas!
Encalhado
Sob a égide
Da densidão das águas do mar
No rasto de um marasmo
De dias iguais
Sem um futuro
Acabei tendo-o por breves instantes
Quando se desprendeu do firmamento
Abandonando as estrelas
Que cintilam com olhos saudosos
Límpidos e fulminantes;
Quis
Pois
Ser o passado
Com o presente ausente
E o Futuro
Já o sabia
Não estava ao seu alcance
Quando se recusou olhá-lo de frente
Cingido ao vislumbrar das formas
Que se apresentam sob um olhar entristecido e negro
E silenciou-se
Nessa gruta escura e húmida
Em que achou por bem se encerrar
Para antecipar esse dia
De um atroz disparo
Contra o peito
Que tanto arfou
Nessa exasperação cruel
De quem já nada mais vislumbra da vida
Do que lhe pôr fim…
Um rombo enorme
Deixou escorrer o sangue vivo
Em golfadas violentas
Inundando o chão
Duro e sujo
Da garagem
E ali permaneceu esquecido
Só e imundo
À espera que recolhessem
Esse corpo retesado
Para poder descansar em paz
Naquele retângulo sitiado pelos velhos muros
Cativo dos silêncios
Debaixo do altivo carvalho
Interrompido pelas maviosas melodias
Do invisível tentilhão
Que saúda sempre
Os novos
Que
Com ou sem pressa
São tragados
Pela terra faminta
Que não se exime
Em desfazer as velhas carnes
Apodrecidas
Que regressam ao pó!
Desejas o silêncio
Para que as palavras
Quaisquer que elas sejam
Não golpeiem tua tão vão sensibilidade
Como é aquela que exibes
Habituada aos silêncios
Ao matraquear constante
Das palavras
Que em ti
Nunca se desnudam
Nesse pudor que adormece
Os teus desejos incontidos
Que vivem
Na penumbra
Desse passado que tanto te atormenta
Mas
Não me peças para me calar
Faz-me tão bem
Ir falando
Abordando
Rodeando
Esses personagens quixotescos
Ou da mitologia grega
Que pululam dentro de mim!
Uma arreliadora avaria no meu PC fez levou a que as minhas senhas guardadas fossem limpas, limitando a minha atividade.
Gradualmente fui-as recuperando; porém, a do Artimanhas do Diabo estava tão distante do meu conhecimento, da minha memória, que nem o simples endereço eletrónico eu me lemabrava e também não tinha forma de a recuperar o que me levou a pedir às escassas pessoas com quem contatei se tinham na sua posse o meu endereço eletrónico, pois isso era um princípio para conseguir chegar, pelo menos, até à entrada.
Agradeço, por isso, à Sandra o seu esforço e boa vontade manifestadas, mesmo mostrando-se infrutíferas as diligências na tentativa de recuperar, pelo menos, o meu endereço eletrónico, mas a sua simpatia e humanidade estão bem presentes no seu caráter e por isso ela pode, com propriedade, falar do que fala porque ela é mesmo assim!
Outra pessoa que contatei, híper ativa, que publica diariamente e que, aparentemente, é tão “sensível”, mas tão superior se tem, nem me disse que sim, nem que não, ignorou-me simplesmente o que diz bem da sua solidariedade, apenas aparência, mas não o é, de todo!
Por fim, à equipa do blog Sapo que, perante o meu contato, me forneceu o meu endereço eletrónico que me permitiu tentar, tentar, tentar…até que, finalmente, consegui chegar à combinação perfeita para entrar no meu blog.
Aos que se preocuparam comigo o meu muito obrigado.
Etan Cohen