ANGOLA MINHA NAMORADA
“Ai…ai…ai
Não me perguntes nada…
Não me fales de saudades…”
O trem desliza sorrateiro
Pela estrada cálida de ferro
Há muito ferrugenta
Desde que os Menekongos
Se expressavam pelo som dos batuques;
“À gauche…à droite…”
Terra vermelha
Das palancas gigantes
Que ajudam a assear
Alisando o solo que parece não ter fim
Que tão grande que ele é
Nunca poderá ser de ninguém!
Os velhos antílopes negros
Tornaram-se o símbolo de Angola
Que mais parece ser uma profecia
Presenteados com a sua esfinge
No peito das camisolas da Seleção
Ou voando encrustadas nas cabinas dos aviões,
De repente
O velho trem
Se agita derrubando receios
Perpassados pelos velhos tiques do colonialismo
E em passo vivo
Assoma-se às planícies douradas
Queimadas
Pelo sol inclemente
E a dura seca de inverno
Que se sobrepõe a qualquer desejo
Que acabou suicidando as loucas diatribes sebastiânicas
Da grandeza do império
Sempre tão propalado pela mítica poesia lusa;
Tu trovador de voz timbrada e melodiosa
Trouxeste da tua terra esse grito de esperança
Onde a liberdade era a tua imperatriz
Cantaste a Velha Xica, Muxima ou a Pretaluz
E sempre transportando um olhar sereno e nostálgico
Mesmo quando o sucesso chegou rápido e precocemente
Rejeitaste sempre ser um tonto sapo bulboso
Soubeste expressar-te
Como ninguém
Através da música
Que casavas esplendorosamente
Com palavras que vinham do teu sentir de angolano
Da partilha
Da liberdade
Da grandeza
Da vaidade
Da terra abençoada
Domicílio de príncipes
Onde tudo é tão espontâneo
Como as palancas gigantes a calcorrear
E a abrir
O amplo caminho que se abre através da savana
Tu foste um verdeiro príncipe
Quando cantavas à tua linda princesa: Angola
Proclamando:
“Angola minha namorada”!