Sigo
Por entre
As bravas
Guturais
E resistentes árvores
Que se amontoam
Na feliz mansidão
Do reino das bolotas
Que se vão soltando dos ramos
Que
Sem o saberem
Sem o quererem
Sem o desejarem
Saboreiam a doce terra
Cheiram o bafo húmido vindo mar azul ao longe
Audível
Nos dias quentes e folgazães
Dos verões que nunca acabam
Amontoados nas cercanias da Serra de Grândola
Guardados pela erva rasteira
Sufragada pelas tímidas ovelhas
Que se deslocam em catadupa
Naquele pisar de solo
Cuidadoso e seletivo
Como só ali se ousa;
No meu passo
Indelével
Silencioso
E sempre mediativo
Estugado na planície
Tão grande
Como um céu carregado de estrelas
Tão absorto
Na luz que nos olha
Como uma aurora boreal
Avisto
Ao longe
A Monarca
Do Alentejo e dos Algarves
Que em certos dias do ano
Se escapule até às amendoeiras em flor
Para recordar a doce e fofa neve
Das terras longínquas do Norte!
Apregoo a doce meninice
Da minha voz
Que se confunde com o narrador
Das minhas notas de vida
Que se misturam
Desde tempos imemoriais
Com a Natureza
Prenhe de acontecimentos
Que estão sempre ao dobrar de uma qualquer esquina
De uma voz que não se perde
Nunca
Do sentido que tem
Ou não tem
Nesta Vida!
Quando me cruzei contigo
Felicitei-te
E felicitei-me
Não pude deixar de me entusiasmar
Com a alegria estampada no rosto
Porém,
Não pude rebobinar
A esperança
Há muito congelada
Não pude fazer viver
O passado
Mudando de rumo
Ou alterando
O que de bom ou mau
Me fez chegar até aqui
Mas vi-me
No reflexo do espelho
Que não me cansava de me lembrar
O sangue que vi derramado nas ruas das cidades
A loucura mansa
A pérfida vontade do poder
A tonta vaidade
De achar que outros farão melhor
E,
Sem projecto antanho
Sem esboço credível no presente
Sem mobilizar as suas próprias hostes
Dos que pedem agora aflitivamente
A mudança
E que
Vislumbram
Um futuro que se avizinha de um branco glacial,
Pedem, somente, el cambio
Sem cuidar de saber que a mudança
Implica dinamismo
Esforço e vontade
E crença neles próprios
Quando todos parecemos ainda
Servidores da continuidade
Pois
Mudar
Mudar
O quê?
De protagonistas
É mais fácil seguir a mensagem
De quem comanda a embarcação
De quem
Apesar de tudo
Deu ânimo aos cidadãos
Em todos os tormentos padecidos
No mar em solidão
No mar em convulsão
No mar em negação
E não interessa saber
Se no barco se mente tanto
Todos os farão para levar por diante tamanha empreitada
Interessa saber
Quem nos trouxe até aqui
E que exibe
Cada dia que passa
Tão boa forma
E ótimo sentido de humor
E que ainda é aquele que poderá pode decidir as escolhas
A que todos iremos ser chamados…
Mas não tenhamos medo do que aí virá!