Por mais que me atreva a percorrer
Os mesmos caminhos em que te aventuras
A trilhar a uma velocidade estonteante
Nas trincheiras com te deparas
No rumo traçado por uma jovem e promissora vida
Nunca ousarei alcançar-te,
Tu tens o firmamento todo
À tua voz e desejo
Que coexiste na escuridão que todos os dias nos cerca
E que a tantos inspira
Imenso
Incomensurável
Indestrutível
Mas tão distante a tantos
Que nunca saberão interpretar
As suas mensagens e os seus mistérios!
Como poderei atrever-me
A alcançar uma estrela cadente
Assim tão jovem
Como aquela que tu simbolizas
Tão pujante
Com uma inteligência intensa e fulgurante
Tão ingénua
Como convém a uma beleza como a tua
Avassaladora
Possuída pela ilusão de uma vida
Que se entrelaça nos seus próprios ideais
Que guarda religiosamente só para si
Que não se abate
Nem esmorece
E que todas as noites cintila sem cessar!
Celebras um dia especial
Um dia em que
Simbolicamente
Poderás
Fazer as escolhas que ousares fazer:
Gostando ou não do que fazes
Do que te fazem
Ou do que não te fazem
E que gostarias que te fizessem,
Neste dia especialmente
Exibes-te radiante
Orgulhosa e galante
Escutando palavras elogiosas
Captando imagens
Que ficarão deste dia
Que
Mais tarde
Tantas recordações
Romperão pelo teu aconchego
Deslizando gotas que rolarão pela tua face
Cada uma delas a evocar
Os mais próximos
Que partiram para o infinito!
E tudo começou
Num simples final de tarde quente
Embalada pelo espírito veraneio
Uma ave canora
Companheira de tantos e tantos momentos de vida
Escapuliu-se
Ao de leve
A saltitar
A esvoaçar timidamente
Da gaiola
E que quase acabou chocando com a minha sombra
Engalanada pela saudade de tantos e tantos dias,
Recolhi-a e voltei a coloca-la no único lugar que ela conhecia
A avezita assustada e exausta
Quis apenas vislumbrar como era o mundo desde fora
Por simples curiosidade e para espairecer a sua candura
Depois
Bem
Depois foram os esquecimentos
As palavras cada vez mais que não se perfilavam
E se mostravam tão difíceis de pronunciar
E que já não acompanhavam os seus próprios pensamentos
E que, apenas, saiam a conta-gotas
Até que aconteceu a queda fatal
E que preanunciava os breves instantes de vida que se lhe iriam seguir,
Uma longa vida dedicada em exclusivo aos seus
Por onde procurou viver todos os dias de baixo de um entusiasmo tão marcante
Que era impossível não ser tocado pela sua luz
Sempre dedicado a todos os que ousou conhecer
E eram tantos
Amigos e amigos que foi conhecendo ao longo da sua longa vida
Porém, já nada havia a fazer
Os seus dias foram passados
Ora sentada
Ora acamada
Numa letargia profunda
Nada condizente com a sua vivacidade e alegria de vida!
Os seus olhos azuis
Intensos e perscrutadores
Permanecerem dias e dias encerrados
Sob as suas pálpebras integralmente fechadas e que pareciam coladas
Enfiados nesse sono profundo que antecede a partida
Até que esse dia
Que tantas e tantas vezes tão abjetamente previsível
Se anunciou
Numa manhã sonolenta e cinzenta
A culminar esse seu desejo
Tantas e tantas vezes sobredito
Balbuciado
A rogar que sua senhora mãe a levasse para junto dela…
A terra que testemunhou o seu nascimento
As suas primeiras travessuras
As suas aventuras
O seu esgueirar por esse olhar cintilante
Azul
Muito azul
E sempre atencioso
De largo espetro
Que era sempre um balsamo a todos os que eram bafejados
Por esse sorriso inerte de pura inocência
Acabou a engolir esse seu corpo enrugado
Carcomido pela dor e cansaço
Para ali permanecer
Nesse eterno descanso
Engalanado pela cidade que lhe deu a vida
Ao lado das velhas árvores que encimam as encostas
Que guardam os segredos do velho castelo
Pululado de lendas atormentadas
Que vão passando de geração em geração
E que são como os pequenos seixos no meio da terra
Que dificultam o trabalho dos coveiros
E que parecem trazer os mistérios das profundezas
Dessa terra onde reina o silêncio e as trevas
Que tanto nos equacionam nestes parcos dias passados
A tentar viver toda a vida possível
Como ela sempre quis viver
À sua maneira
Claro!