FORMIGA
Que não dorme
Que se ergue
Das profundezas do chão
Regressada
Das pequenas frestas
Lançando o manto tisnado
Do reino dos silêncios
Lá onde
A Rainha
Essa sim
Dorme
Entre a lentidão
E a obesidade
Entre a vida e a morte
Mas que vai até à eternidade;
Formiga
Laboriosa
Cabeça móvel e atenta
Nas extremidades
Antenas eriçadas em alerta
Patitas levitando no solo
Como os irrequietos alfaiates na água doce
Sempre à procura
Sempre à procura
De uma iguaria
Para levar para o formigueiro
E a cigarra?
Aspira a ser formiga
Quer ser laboriosa
Enérgica
Preocupada
Mas se
Assim devera ser
Assim devera ser
Deixavas as noites quentes
Como breu
Nas planícies cálidas do Sul
Onde o sol inclemente
Não tem rival
Apenas
Aqui e ali
Umas tímidas sombras
À coroação das aflitivas rãs
Que coaxariam solitárias pela noite dentro!
Discorrendo sobre o poema de Alexandre O'Neill, "Formiga Bossa Nova", cantado pela Amália!