SENHOR LUÍS

O silêncio
Em si
Era como a moldura de um quadro
Dando-lhe a espessura
Para que cintilasse a sua crença
Num mundo melhor
Partiu
Sem se despedir
De todos os que amava
Em jeito de breve
Mas esdrúxula suspensão
Parou o seu coração
Naquela tarde abafada
Caiu suave para os braços
De quem sempre os tinha abertos
Palpitante
Que foi ficando cada vez mais flácido
Cheio de pressa em se acomodar
Para tocar adiante
As infinitas paixões da sua vida
Seus entes mais queridos;
Partiu para a muralha
Onde o silêncio impera e é rei
Para dali banir as diatribes
Sufragando a bondade
Fazendo-a proclamação:
A única que salvará este Mundo…
Descansa agora
A flutuar nas desmedidas orações
Rodeado de nuvens
A latejar de crianças
Que todos os dias enchem os meus ouvidos de alegria
Que hoje são homens
E lá atrás
A sua simples presença
Acalmava-os sem vacilar;
Até as pegas a esvoaçar nas cercanias
O visitavam para confessar os seus desvarios
E você
Envolto na sua boina
No seu cajado
Que o guiava
No caminho refrescante
Onde sempre esteve
Na imensidão do silêncio
Que construiu!