A ÁGUA QUE ME MATA A SEDE
Tu és fogo intenso
Desesperas-me
Mexes com a minha perseverança
Tu és gelo cortante
Destróis o meu coração
Queimas o meu peito
Eu que sou eu
E nada mais
Deixa que monde as mágoas
Que há em ti
Esquece esse meu caráter tormentoso
Arrefece esse meu olhar sonâmbulo
E se não te puder ouvir
A declamar os teus próprios sentimentos
Dá-me as tuas palavras escritas
Pois elas são o bálsamo prodigioso
Da minha vaidade
De te ter lido
E de pensar
Que as escrevias assim
Dessa maneira tão intensa
Para mim
No teu perfil aquilino
Com que te imagino
Agora mais intenso
Do que vou lendo das tuas palavras
Fico-me a levitar
E a suspirar
Pela tua presença
Guia-me, pois, em tão insana viagem
No mar
Sempre no mar
É mais perigoso
Mas mais heroico
Para onde fomos empurrados à força
Nesta água imensa salgada e efervescente
Que nos gela as emoções
Se enfática fores
Farol buscas
Eu esdrúxulo for
Lampejo de luz busco
O Don Sebastião
Que numa manhã de brumas
Regressará de Alcácer Quibir
Esse Farol Sebastiânico
Tão seguro e mítico
Como estrela polar
Nos dias de nevoeiro
Que projeta o seu auguro
No estridente som da sua voz
Estarrecida
Aborrecida
Que perpassa pelo espesso nevoeiro
As tuas mãos
São as minhas mágoas
Os teus cabelos
As minhas indecisões
Essa tua fronte
Onde se acolhem as tuas cicatrizes
São as minhas memórias
E nada mais do que memórias
Porque estar contigo
É algo impossível de realizar
Porque já és
Página do livro das recordações da minha vida
E, já não,
A mulher que eu conheci lá atrás!