A ALQUIMIA DA TOALHA
O alvor
De uma pureza de seda
Tão silenciosa
Como prudente
Sustenta uma tela colorida
Que se espalha
Pelo dealbar de um olhar atento
Às refeições
Erguida
Como despejos de uma guerra perdida
Mas de figuras simpáticas de alimentos
Todos eles vegetais
Que adornam os paladares das sopas
Tão do agrado dos comensais:
Alcachofras sumptuosas
Nabos ligados a ramas florentinas
Cenouras acompanhadas de cordão umbilical
Folhas esquecidas que se bastam a si próprias
Feijão a soldo de uma boa refeição proteica
Isto tudo nos chega através de uma simples toalha de mesa
Que se exibe
Esticada hercúlea
Sobre a mesa
Onde se consomem as viandas
Que na azáfama dos dias
Nem se dão conta
Das orações
Que ficam por dizer
Na espuma dos dias
Sempre tão iguais:
“digno senhor, abençoai os alimentos…”;
Mas sob o manto branco
De uma toalha de mesa
Estendem-se cores prussianas
Que nos embalam:
Verdes
Castanhas
Roxas
Leguminosas
Que parecem fugidias
Dos principais cardápios
Das mesas lusas
Mas que
Em latitudes tão distantes da nossa
Que hoje se guerreiam freneticamente
São alimento diário:
O borsch
Borscht
Ou borche,
Também escrito como borshtch
Com a beterraba tão presente
Que lhe dará uma textura espessa
De uma coloração vermelha
Sanguínea
A homenagear
Todos os que tombaram nos campos de batalha
A defender o vizinho invasor
Tão obsessivo e tétrico
Dominado por uma criatura bélica
E tão perdidamente animalesca
Que tantas vezes parece perdido
No meio de páginas e páginas de obras
Que fizeram furor
Na literatura universal!