A CAIXA
Resplandece
Encerrado no interior
Na arca que me deixaste
Lançando-me
No encalce desse mistério
Que se adensa como nevoeiro
E que mais não é do que amor eterno
Que nem o frio glaciar
Nem o calor mais tórrido
Conseguem abominar
Lá dentro
Deixaste a essência da tua paixão
Que foste apreendendo a verberar
O que de ti
Saí
Em catadupa
Como a água nas correntezas
Saltitantes de um rio
Verdadeiramente aflitivo
Nessa espuma regeneradora
Que o vai purificar
Afirmaste-te
Nessa caixa
Que deixaste
À minha porta
E logo percebi
Que dela emanavam os teus carateres
Desenhados a caneta
Onde costumas erguer e dar corpo
A certas palavras
Que acabam ganhando um fulgor e uma dimensão gigantesca
Cedi ao meu desejo
De a abrir
Mas isso
Não bastou para fazer crescer em mim
A imensa curiosidade
Que está para além de a esventrar
Prefiro
Aguardar
Por fim
Pela surpresa
Lançando um olhar
Até ao teu coração catita
Que bate tão forte
Que se alimenta de ternura:
Em tudo
Tu
Transformas as mais singelas vivências
Em abalos sísmicos de emoções
Um dia de cada vez
Hoje uma caixa
Amanhã
Quem sabe
O teu reino
Que não é desta vida!