A CIDADE DOS PRODÍGIOS
O pó esmorece a talha
Que o tempo
Ao tempo rouba
Desse livro que se escapuliu
Da nobre missão que o trouxe até mim
Mesclando-se com os seus irmãos
Para abarcar uma nova vida:
Passou à clandestinidade
Como tantos e tantos outros
Que viveram tempos difíceis
Em que a liberdade em Portugal
Era apanágio dos que transponham os míticos Pirenéus;
Tu
E eu
Tínhamos o pleno sentido dos sentimentos
Que brotavam deste livro prodigioso
Mas
Acossado e prisioneiro do tempo
Manteve-se clandestino na tua biblioteca
Onde conservas as preciosidades de outrora
Num tempo em que pensavas mudar o mundo
Com os livros que forjaram a memória
Das narrativas dos jovens de então…
Volvidos estes anos todos
Muitos dos que nos acompanharam nas brincadeiras de criança
Foram-se para outras paragens
Outros
Simplesmente,
Guardamos deles uma grata e suave memória
Da sua passagem por esta vida
Mas, todos eles acabaram por nos dar a humanidade
Que tanta falta faz às gerações que nos precederam
Pois, tornou-nos inconfundivelmente humanos e densos!
Guarda, pois, velho Amigo
Essas palavras
Guarnecidas num papel simples
Impressas numa velha máquina de escrever
Que, com o peso da idade,
Amareleceu-o
Mas tornou-o maciço;
Dá-lhe descanso eterno
Nessa folha logo a seguir à capa
E faz dessas minhas palavras um raro momento de uma vida
Que dê a dimensão do significado
Que representa
O Prodígio da Palavra!