A MULHER DE BRANCO
“Lá fora está chovendo
Mesmo assim eu vou correndo
Só pra ver o meu amor
Pois Ela vem toda de branco
Toda molhada linda e despenteada, que maravilha
Que coisa linda que é o meu amor…”*
Incerta chuva
Acossou-se
Abatendo-se
Sob a minha cabeça
Onde repousa
Um emoldurado topete
Rijo
Penitente
E esdrúxulo;
A luz noturna
Que emana do céu
Lunar e inspiradora
Há muito que se ausentou
Oculta nas densas nuvens
Que não saem do alvor
Coladas às rotinas
De dias e dias
De impaciência
Na vã esperança
De que cesse
Mas sem que se vilumbre o decreto
Que dite o seu fim
Fustigando o nosso entusiasmo
Abrindo brechas
Na nossa célere presunção
E o único que nos aquece
A honra, a glória e que nos tranquiliza
É a Mulher de Branco
Que debaixo de um vendaval
Chuva impiedosa que caí incessante
Se passeia
Meneando as mãos
Gingando o tronco
Agitando a longa cabeleira
De finos cabelos
E canta
Canta sem cessar,
Mesmo que lá fora
Esteja chovendo;
Por fim,
A chuva cessa
O dia desperta
Baço
Denso
Sem que eu vislumbre a dançarina de rua,
Uma dúvida se abate,
Por onde anda a Mulher de Branco?
A música repete-se interminável
Sem que possa perceber
Onde paira a Mulher de Branco?
* letra da música "que Maravilha" de Jorge Ben Jor e popularizada por Wilson Simonal .