A PRAIA
Luz
Azul
Cintilante
Enorme
Infindável
Filtrada pelos meus olhos claros
Sensíveis à luz veemente
Irrompe poderosa até aos meus neurónios
Luz que me alivia
Do negro olhar dos dias chuvosos e cinzentos
Da espuma brumosa
Esbranquiçada
Leitosa
Que vai crepitando
Até se desfazer na areia
Do sal que respiro
Do omnipresente odor a maresia
Da fina areia que piso
Da espessa concha do pequeno molusco que estilizo
Enterrando-a ainda mais na areia
E daqueles peixinhos circundantes
Que nadam na minha imaginação
Benignas figuras da minha infância
Que avisto nos interstícios da neblina
Desta praia que avisto
Que conheço como ninguém
E que não me sai da cabeça
Ao último olhar que,
Na hora da minha despedida
Nestes neste mundo lançarei
Não faltará a praia que não me canso de avistar
A praia que não me canso de almejar
Nos dias de neblinas
E de frios insondáveis
Que não me deixam
Tranquilo
Em paz
Mas afina a praia
É muito mais do que o meu olhar
Do que a minha vontade
Do que os meus desejos
Está para além de mim
A praia
Sou eu
Mas és tu também!