A PRAIA JÁ TÃO DISTANTE
Perdido na aventura burlesca
A tentar recriar o passado
Entrei
Assimilando
O que de tão especial tem o mês de agosto…
Vagas de paixão discorreram
Para me trazerem tão distantes anos das minhas memórias
Dos tempos em que na praia parecia que não soprava vento
O sol assemelhava-se a um farol de luz inflamada permanente
E quando se estava para esconder
Refletia tarjas raiadas de vermelho
Que era a hora de se deitar no leito do oceano
Deixando-se envolver pelas águas escuras
Que para nós pareciam sempre quentes
Dada a quantidade de povo que se banhava no mar
Carregado de odor iodado
Com aquele sabor inconfundível a peixe
Estimulado por idas e vindas
Dos pescadores
Que realizam todas as artes a pulso
E que eram auxiliados pelas gentileza dos veraneantes
Quando era a hora de retirar as intrincadas redes
Que pareciam nunca mais acabar
O mar ia e vinha
Exultante de força com as ondas enormes
Rodeadas pelos banheiros de mão dada com os meninos
A desafiar a sua imperturbável autoridade
E onde os amantes escreviam
Juras de amor eternas na areia húmida
E os petizes felizes
Atrás dos Rajá
Guardados no frio das arcas dos banheiros
Que alugavam as barracas aos pais
Que alinhavam as pequenas cadeiras de madeira
Junto às construções em pano
Insufladas pelo vento furioso
De matos coloridos às riscas
Ora verdes
Ora azuis
Ora vermelhas
Mais raras as amarelas
Que casavam com o branco
Construindo aquele visual listado
Que se misturava com as barracas e os guardas sóis dos particulares
Onde debaixo daqueles toldos
Eram forrados os laudos almoços
Guardados nos tachos revestidos pelos velhos jornais da época
E onde
Agosto que me lembre
Tinha todos na expetativa a ouvir o relato da Volta à Portugal!
E
Passados estes anos todos
Aquela praia antiga esfumou-se num ápice
Os heroicos personagens que conservo na minha memória
Que não paravam um instante
Porque não iam para ali banhar-se ao sol
Que saltitavam pelo meio das ondas gigantes
Que corriam atrás de uma bola
E que eram repreendidos
Ora pelo Cabo do Mar
Ora pelos banhistas deitados ao sol
Molhados ou suados
Sempre com a preocupação
De se deixar envolver pelo odor inconfundível a iodo;
E a água do mar
Era vista como uma cura para todos os males
E onde até se observavam
Homens e mulheres vestidos de preto
Deitados no areal
Que se preparavam
Carregados de galhardia
Para se abeirar da linha da costa
Molhando os seus pezinhos calejados e endurecidos
E ficavam ali a observar os mistérios do mar
Ao lado dos corpos espalmados dos banhistas
Revestidos a fatos de banho da época
Onde não faltavam os modelos mais arrojados femininos!
Um dia parece que tudo aquilo se esfumou
E a praia serve sobretudo
Para as pessoas se deitarem na areia
Na posição correta para colher os raios de sol
E tisnar os corpos
Daquele ar “saudável”
Que é o bronze
E onde já não se almoça
Para puder disfrutar dos excessos de umas bolas de Berlim
Já não se lancha
Para poder repimpar umas cervejas
Carregadas de amendoins
Tremoços
Ou mais rusticamente
Uns pipis
Umas francesinhas
Ou os tão amados e odiados caracóis!
Mas a praia segue
Esse mês de agosto s
Já sem se contemplar a ela própria
Perdeu o norte
O espírito crítico
Já nem fala dela própria
Espera que os outros digam dela maravilhas
E há-de vir o setembro
Pra relembrar que o natal está à porta…