AGORA
Agora que te surpreendes
Com a ausência da turba de amigos que julgavas ter
Agora que, tens tempo, para evocar o passado
E te ajuda a transcender-te nesta fase, vendo como transpuseste todos os obstáculos
Agora que vês que não consegues controlar a tua vida
Contempla, pois,
O voo do condor
Os velozes antílopes nas suas correrias na árida savana
O serpentear dos répteis por entre as ondulantes e precárias dunas
E vê como eles avançam sobre nós,
Sentindo a nossa humilde condição e fraqueza.
Cavalga esse equídeo musculado e fumegante
Que te poderá levar, outra vez, à leveza de uma vida
Mas, agora, meu irmão, meu amigo
Em plena peleja
De que vale ter tanto?
Vai, pois, cheirar as flores que se anunciam na, apesar de tudo, Primavera
Escutar as aves que se regozijam na entrega de um renovar da espécie
Usufruir do tempo que não tiveste, ou julgaste não ter,
Tempo que se esgota,
A cada instante,
Nesta prisão em que todos somos obrigados a viver.
Autor: Armando Almeida
Incluído em:
Coletânea "Quarentena - Memórias de um país confinado", Chiado Books. Agosto de 2020