AINDA HÃO-DE VIR AS TARDES DE VERÃO
No silêncio irritante e invisível
Da noite
Que sobrevem
A cada um dos dias que perseguem este sentir
Existência infecunda
Deambulas sem destino
Ensanguentado
Toldado pela dor
De espera em espera
Em busca de uma voz
Que silencie tão grande mágoa
De um olhar sobre as palavras
Que soem escrever-se na relva dos canteiros
Que são a única companhia
Nas madrugadas
Que são como deserto na vida de um tuaregue;
Voltas-te
Procurando nadar nessas águas gélidas e sujas
Em que te lançaste
Em busca de uma salvação
Para que a misericórdia se apresse
Em decretar a tua redenção
Mas já vejo unir
Ás tábuas
Umas às outras
Para encerrar os teus desejos
Que serão sepultados
A sete palmos de terra,
Definhas
Como doença fétida
No encalço de uma razão
Que há muito fugiu de ti
E, por isso, deambulas sem destino
Em busca de um velho caramanchão
Que sustente a tua voz dorida
E que regressa a ti…
Nessa vontade de colheres os frutos maduros
De uma tarde de verão
É o único desejo que te alimenta a esperança!