AO SABOR DE UM ENCATAMENTO
Olhas-me
Como se eu fosse um estranho
Uma pérgula ao longe
Que insistes em enxergar
Periódica
E imemoravelmente
Mas recusas-te a ver-me ao perto
Em pormenor,
Porque não sais desse casulo
Que te limita os movimentos
Te espartilha o peito
E tolhe a vontade
Refugiando-te em longos interregnos?
No estribo da caminhada
Nesse ronronar de estirpe com que és feito
Roubas o cajado ao pastor
Vestes a sua velha samarra
De forte odor a caprino
Retiras a navalha que se esconde no forro
E cortas o pão
Em finas fatias
Decepas o queijo de cabra
E vais comendo aos poucos…
Ó velha ambiência
Que é a tua em que vives
Dá-me o som do que os teus lábios
Que vacilam sempre
Não dizem
Porque sofres da impotência
Causada pelas feridas interiores
Que não saram
E tremes tanto
Com as palavras
E pelas palavras
Com que elas, por vezes, nos enleiam!
E quem tanto tem para dizer
E não o consegue
Espera ansiosamente o dia
Em que o coração se possa abrir
A um novo amor
Uma nova paixão
Nesse dia esquecerás o que
Agora
Tanto te atormenta
E viverás à bolina desses ventos macios
Que trazem felicidade a quem os recebe no rosto
Um dia
De cada vez
Pois que seja!