AURORA BOREAL
Não te quero ter
Só para te exibir
Como se fosses uma montra
De um luxuoso mostruário
Não te quero ter só para possuir
As tuas quimeras, os teus desejos
E te transformar
Em minhas quimeras e desejos
Quero-te ter
Para te olhar densa e profundamente
E gravar
Na pura seda que esvoaça ao vento
Todas as minhas súplicas
Que, ininterruptas, não cessam
No decurso da minha vida
Como o brilho das estrelas
Que cintilam no eterno firmamento
Olho para a tua alma
E que vejo?
A tua grandeza, profundidade e empolgamento
Do teu complexo ser o que me comove?
Ver gravado
O teu e o meu
Nome!
Enxergo na tua alma os teus olhos
Que, ora veem,
Ora sentem mais do que o que veem
Mas deixa-me escutar as tuas preces
Deixa-me ouvir as músicas
Que nós os dois ouvimos
Tantas e tantas vezes
Deixa-me penetrar nesse teu intenso coração
Para ver como ele bate assaz melodioso
Que sustentará todas as dificuldades:
Ausências, amuos, zangas
E onde as cores vistosas
Do universo
Incendeiam
Ainda mais
A nossa intensa paixão
Nos teus olhos
Que, com o tempo,
Acabaram resignados
Ao que cada um de nós aportava
Vejo correr a intensidade do amor
Da paixão
Que não te largam jamais
Da incessante atração
Dos nossos corações
Que, mesmo envoltos em espinhos,
Nunca se esqueciam
De acalmar a nossa ira momentânea
Essa tua indómita vontade
De viver arrojada e impulsivamente
Não cessa de me envolver
E de me aquecer
Como se fosse uma manta
Que me acalenta todas as evocações
E os instantes de vida que o meu corpo
Sente
De cada vez que te evoco
Mas longa é a memória
Curta é a vida
A noite captura o dia
O sol desaparece do céu
A vida em sombras
Perpassa pelos ínvios momentos
Dos descoloridos reflexos
Que se assomam, aos instantes vividos,
Ao que memória nos concede
Mas tu está lá
Está sempre lá
E mesmo que te ausentes para parte incerta
A força da tua luz,
Como uma aurora boreal na longa noite,
Dá-me a dimensão
Do fulgor do brilho que resplandece
Dento de mim
Sobre ti!