BALADA DO ENGANO
Balada para as três mulheres do sabonete Araxá
As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam.
Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Que outros, não eu, a pedra cortem
Para brutais vos adorarem,
Ó brancaranas azedas,
Mulatas cor da lua vem saindo cor de prata
Ou celestes africanas:
Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá?
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?
Meu Deus, serão as três Marias?
A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira morresse… Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!
Se me perguntassem: queres ser estrela? Queres ser rei? Queres
Uma ilha no Pacífico? Um bangalô em Copacabana?
Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá:
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Manuel Bandeira
Sofro,
Sofro,
Por ti
Por mim
As tuas mãos
Tremem
Suam
Agitam-se
Só de o evocares
Agita-se o teu coração
Macerado na evocação da saudade
Desse amor incomensurável
Que ficou ateado,
Algures lá atrás,
Que te vai perseguindo
Como a obsessão de um viciado
Na clareza dos dias de sol
Nos pardos dias de neblinas
No fusco da noite interminável
Quando não consegues dormir
Esse,
A quem persegues,
Ou pelo menos a ideia dele,
Foi o único homem
Que não era um
Mas,
Como as Marias,
Três em simultâneo
Ficou paralisado, endeusado
Como se fosse uma montra
Retido
Nos três planos
Como o sabonete
Dessa caixa
Que apregoava ao mundo
As qualidades do grande sabonete
Que eram também os predicados das três Marias
Nessa cidade com nome meio indígena: Araxá
Sofro,
Sofro,
Por ti
Por mim
Sofro por todos aqueles que sofrem
Pelas três mulheres
Homenageadas pelo poeta
Sofro pelos homens e mulheres que sofrem
Mas sofro muitíssimo
Pelo homem que se esfumou da tua vida
Mas rejubilo pelo homem
Que se mantém inatacável na tua memória
E que, recorrentemente, o evocas
Como esfinge desafiante
Para te entender
Entendendo-me
Mas Araxá,
Essa longínqua cidade
Em que os tupi guaranis
Dizem que é onde se avista o sol,
Pergunto pelas três Marias
E Dizem-me
Que não as conhecem
Nem nunca ouviram falar do sabonete
Ah… poeta como te enganas,
(será?)
E como enganas os outros!
Fazes das figuras reais
Fantasias
E das fantasias
Homens e mulheres mais que reais!