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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

BENJAMIN

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Uma ténue poeira

Que naquele tempo parecia esdrúxula

Disseminada e leve

Girando e pairando no ar

E quase parecia suspender o seu passo

E dar de si toda uma vida

Abateu-se debaixo do manto colorido

Das minhas memórias

E sentindo o odor

Ao pó deslavado

Que

Dia após dia

Ano após ano

Se foi acumulando

Em todos os retratos

Que testemunharam a tua existência

Na leveza de um voo de uma borboleta

Até que me deixei permanecer absorto e fixo

Por uns instantes

A olhar as paredes da velha casa simples e humilde

A sentir o odor a gado

Do leite fresco matinal

E os estridentes zumbidos dos insetos

Que esvoaçavam pelas redondezas

Mas a velha caixa conserva ainda os brinquedos dos meninos

Coisas simples, mas poderosas,

Porque ainda hoje

Fazem-me evocar os corroídos botões

Que rolavam perante o olhar dos petizes

E que acabavam por se perder nos intervalos do soalho;

Partiste criança, muito criança, ainda

E, como Anjo que partiste,

Acabaste no lugar destinado aos anjinhos

De repente,

Adoeceste e foi tudo num ápice

Acabaste por partir

Ainda mais inocente

Do que quando saíste das entranhas da tua mãe

Ficou o teu irmão

Forte e corajoso

Mas que nunca te esqueceu

E que deambulou uma vida preenchida

De um sítio para o outro

Instável

Em busca do Benjamin que conheceu em criança

Que tão precocemente acabou por ser sepultado

Na terra espúria que resolveu não seguir os desígnios da natureza

Que

Mais tarde

Engoliu os pais e o irmão

Mas ainda hoje

Diz-me o coração

Os dois irmãos continuam a deambular por ali

A brincar com os botões

Perante o olhar atento e aprumado dos pais;

O que é uma vida?

Se ela é ignorada;

O que é a morte?

Se ela é esquecida?

O que é nome?

Se já não estão os que

Outrora

Tanto chamaram pelo teu nome:

Benjamin…Benjamin…

  

 

 

 

 

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