CACHOPOS D`OIRO
A Este
Inglória sedução
A Oeste
Paixão crescente
A Norte
Resistência contra a incúria
A Sul
Solfejo
A amplitude da planície;
Cereais
Selvagens
Balanceiam ao compasso
De um vento leve e tímido
Que
Por breves momentos
A espaços
Sibila na planície
Roçando
Ao de leve
Umas nas outras
Espiga
Folha bandeira
Entrenós
Pedúnculo
É o entusiasmo
A cor
A excitação,
Grilos que sussurram
No meio da cearas
Zurzindo as asas
Ininterruptamente
Deixando escapar o que lhe vai na alma,
Rãs que se enchem de peitos de aço
Gloriosas e jactantes
Imóveis e sedutoras
Nas charcas
Construídas nos interstícios de bátegas de água
De chuvas que parecem monção
A assinalar a chegada da primavera,
Cegonhas tranquilas
Que nos comovem
Debaixo de um céu azul
A planar
A salpicar o longo bico,
Ceifeira
Que ceifa sem parar
O trigo
Entoa a bela canção
Sincopada
Que fala de um pobre ganhão
Que morreu de paixão
Recolhe o pão com toucinho
Da sesta de vime que lhe ofereceu o Zé Cigano
E ávida
Mete-o à boca
Plena de sabores,
Hoje e sempre
Jamais encontrará a ventura
Essa
Deceparam-na à nascença
Sem quereres
Sem soluções
Sem futuro
Ceifar
Gerar
Amamentar
Procriar sucessivamente
Até que as suas entranhas
Sequem
De exaustão
E não possam gerar mais
Senão
Desejos entoados numa voz
Um declinar de cabeça
Um lamento que saí sob a forma de lágrimas
Quando discorre:
- Os meus cachopos são de d`oiro!