CRIANÇA
Criança
Que chora
Que ri
Criança, criança apenas,
Que não quer ser adulto
Criança que adula os seus sonhos
Que roça nas suas fantasias
E que acaba dormitando
No regaço da mãe
Criança, é mesmo criança,
Vive desenhando
Vive pintando
Imersa nas folhas brancas do papel
Garatujando singelos esboços de figuras
Que pululam a sua fértil imaginação
Com os frágeis lápis coloridos
Que a mãe a presenteou
Mas a criança desespera
Quando rompe as pontas dos lápis
E não consegue acabar os desenhos:
A casa, o mar, a árvore, o cão, o sol…
Mas, criança não desiste,
É mesmo assim,
Criança não envelhece
Não se esquece
Recusa crescer
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Deixar de ser o centro das atenções
E por isso, criança,
Vai afiando as pontas dos lápis rompidas
Vai conservando as aparas
No meio dos livros
Que falam do João do balão
Ou da dona galinha
Mas, criança,
Nunca vai ser, ela própria,
Segura
Criança
Vai precisar sempre
Do peito da mãe
Para descansar
Criança
Vai precisar
Da dureza do cimento
Do caráter do pai
Para ser convicto
E, com a robustez deste,
Acabe derrogando todos os receios
Com que a vida o surpreenderá
Criança suplantará
As suas frágeis indecisões
Trará o sabor dos seus doces
Debaixo do seu ténue palato
Andará sempre com o ranho no nariz
Com a lágrima fácil a escorrer-lhe pela face
Com o grito ululante que percorre os cantos da casa
E mesmo no maior desespero
Do dia ou da noite
A criança acabará sempre rendida
Ao envolvente abraço
Da mãe
Da tia
Ou da avó
Pois, jamais se olvidará
Daqueles braços quentes e envolventes
Que a apertavam com o vigor
De um abraço forte
De quando era criança
Apenas criança, criança apenas,
Que importa mais na vida
Do que ser criança,
Somente criança?
Para poder ser beijada
E perdoada
Pelos múltiplos disparates
Que na sua qualidade
Lhe é permitido enquanto criança
Criança
Que te quero criança
Como quero sempre o mar acetinado
Brilhando no horizonte
Como quero as estrelas a cirandar
Nas noites cálidas de Verão
Como preciso do sol
Para me aquecer os ossos dos frios dias de Inverno
Mas criança também é
O pirilampo que se apaixona pela luz
Ou a água da nascente que corre para o mar
Atraída pela aventura
Mas criança não é ser um adulto pequeno
Em criança, sê criança mesmo,
É sonhar acordado
Fantasiando, pintando o mundo,
É ter amuos constantes
E logo a seguir correr para os adultos de braços abertos
Enchendo-os de talhadas de amor
E dos golpes precisos de um amparo
Mas criança é uma tão frágil criatura!