E EIS QUE ME DESPEÇO SUAVEMENTE DO VERÃO
Enquanto o verão
Retempera a minha alma
Que, forçada à solidão,
Dá sinais de querer entrar num novo ciclo
Anseio as primeiras chuvas de outono
E os ventos que as acompanham
E as folhas que se desprendem das árvores
E a erva que nasce fresca e viçosa que é pasto dos ruminantes
E o odor a carne que é um regalo para os que dela se alimentam
E o húmus que vai derretendo os cadáveres
E os necrófagos que cheiram a sua próxima refeição
E os rios que se revigoram
Carregados de uma energia muito especial
Voltando a sitiar as escarpas mais íngremes
Envolvendo e arrastando as pedras
Que se foram soltando no verão
E as novas árvores com a sua folhagem
Em que impera a coloração castanha
E fico-me
Pois
De olhar siderado
Abalançando-me a olhar o presente
Mas ansiando também pelo futuro
Suspendendo a respiração
Olhando o firmamento
Que parece mais pequeno e próximo
E eis que avisto
Os majestosos grifos
A planar silenciosos sobre a minha cabeça
E não me canso de me extasiar com os montes
Que imóveis ostentam uma beleza ímpar
Debaixo de cores múltiplas
E formações antropomórficas
E então
Até onde o meu olhar alcança
Que me deparo com um sol tímido
Agora
Menos exuberante
E escolhe ser mais discreto
Cansado de se exibir no verão
Que surge sob a áurea
De uma raridade
Assaz apreciada
Que torna a luz do outono
Um postal carregado
De cores primárias!