ELVAS
Sigo
A marcha
Da ladeira
Que observa
Paciente
A planície raiana
Onde se amacia e refresca
Nos dias desesperadamente tórridos
O velho aqueduto;
Tocando
Levemente
A monumental Elvas
No meio de um intrincado
Ninho de ruas íngremes e estreitas
Que confluem até à Praça da República:
O coração da cidade!
Abaluartadas
As inúmeras fortificações
Que nos remetem
Para a sina da cidade
Perdida no Alentejo:
O degredo
Para os militares revoltosos
Ou os que se aventuravam a fugir ao cumprimento das suas obrigações;
No extremo oposto à cidade
Uma colina nos interpela
E bem no centro do seu pináculo
Um conjunto de fortificações
Que, do olhar do velho falcão,
Nos surge como uma estrela bem pronunciada;
A caminho do castelo
Um belo rebanho de cabras
Apascenta nos terrenos sequiosos
Submergidos pela copiosa palha
Que se move sinuosa ao sabor de um suave vento
Capitaneado por um vagaroso pastor
De casaco suspenso no ombro esquerdo
Mão firme na vara que o sustenta
A olhar o infinito
A deglutir leves tragos de ar
E a trautear essa bela canção:
“…Ó Elvas
Ó Elvas
Badajoz à vista…
Transporto no peito
A minha cidade…”
Que se fez
Menina
Mulher
E quando se pensava que
Finalmente
Envelhecera
Eis que se tornou intemporal;
Secam-me os lábios
Endurecem-me os olhos
Enche-se-me o peito de ar
Abrem-se-me as narinas
Que esta gente é de fibra!
Sentado num banco da cidade
A ver Dom Sancho II
Erguer o seu triunfalismo
Aprecio o entusiasmo do jorrar da sublime fonte
No meio da rotunda
E por entre os plátanos
Cortinas de fumo
Numa tarde de incêndios
Surge tímido o velho edifício do tribunal
E eu nutrido
Das boas meças
Que a terra em Elvas dá
Rejubilo da minha presença ali
Sinto-me
Quase
No centro do universo
Elvas
Está pejada de passado
Que é presente e futuro!