EPIFANIA
Parque
De lustro suave
Aveludado
Como se fosse uma pedra
Que traja com as suas vestes
Tricotadas a musgo
Sorriso incandescente
De verde esperança no futuro
Espaços amplos e arejados
De terra suturada
A relva viçosa
Perscrutam, aos saltos,
Com a velocidade de um desejo,
Na relva que se estende ao olhar
Os incansáveis melros
Que buscam ávidos as minhocas
Que se movimentam vagarosas
Pelo meio das gramíneas
Mostram-se os elegantes verdilhões
Que, jubilosos, interpretam
As suas velhas melodias de encantar
Cintilam os pirilampos nas noites quentes de Verão
Flutuam nas águas do apertado ribeiro
Os incansáveis alfaiates
De supetão, quando se aproxima alguém,
Saltam para a água as rãs,
Que aquecem a sua pele viscosa ao sol
Escondem-se os ardentes amantes
Buscam as folhagens mais densas
Que os proteja dos olhares
De quem não aprova
Um simples beijo em público
Mas naquele parque
Avistam-se árvores subjugadas
Aos rigores climatéricos
Às podas sucessivas
Que os infatigáveis jardineiros
As vão submetendo sucessivamente
Mas naquele parque
Vêem-se flores
Que expõem com brandura naturalista
As suas fulgurantes cores
Ou outras, primas das primeiras,
E que exalam os seus belos odores
Que fazem daquele espaço
Uma agradável orquestra
De múltiplas fragrâncias
Que estimulam o nosso olfato
Mas tão belo e equilibrado parque,
Projetado e construído
Genuinamente,
Pelo engenho humano,
Não dista muito do centro da cidade
Mas não se fica por ali
O parque
Atravessa-o, ou melhor,
Rasga-o um pequeno riacho
Que corre, corre, sem cessar
De cadência firme e agitada
Adubado pelas férteis terras
Por onde ele passa
E foi ali, no meio daquele Império açoriano,
Erguido em memória da mão natureza,
Que pela primeira vez tive a mão dela na minha
Olhei-a profundamente
Cravei-lhe um olhar que não a deixou indiferente
Ao de leve, vagaroso, com a paciência oriental,
Acabei roçando-me pelos seus seios
Que se enrijeceram e se avolumaram
E foi ali que me dei conta
De como ela arfava de contentamento
Perante a minha proximidade
Excitada pela minha envergadura
E eu tinha-a defronte a mim
Tão pequena e tão frágil
Como se fosse uma rosa nas minhas mãos
E nessa proximidade
Que rapidamente se tornou intensa
Que ela me confidenciou
Como lamentava não me conhecer há mais tempo
E se foi encostando ainda mais a mim
Quando sentiu a dureza da minha excitação
Por fim beijei-a profundamente
E sorvi ufano a sua saliva
Como uma borboleta
Ao aspirar o néctar das plantas
Quando perpassei a língua dela
Senti-a a explodir de sentimentos
E nesse êxtase final
Dei-me conta,
Louvando a indesmentível beleza daquele parque,
De que como fulgurante e arrebatador
Nos confere
A multiplicidade de reações e de sentimentos
De quem vive a força
E a intensidade
De uma paixão correspondida!