ERRANTES
Na minha cabeça
Mil palavras
A ecoar sistemáticas
Naquele bambolear constante de uma cáfila
Perdida nos meios das areias do deserto
No meu coração
Perduram as viagens dos tuaregues
Partilhando o seu chá de menta
Com os espíritos que vivem livres nos desertos
Nos meus ouvidos
A freme música
Dedilhada na kora
Acompanhando a voz maviosa de Ablaye Cissoko
Nos meus dedos
Finos e longos
A textura de um corpo
Que se alonga ao tatear
Peregrino e ameno
As borbulhas que se extenuam
De um prazer carnal
Infindável
Que acabará a sorver essa tua pele
Branca e aveludada
Dos meus pés
Saem os queixumes de um peregrino
Que nunca desiste de pregar a sua fé
De falar consigo próprio
De abanar os alicerces
Dos que têm tantas certezas
Não vejo a alma dos que não a têm
Não ouço a voz dos que não a têm
Não ouço o clamor dos que não o têm
E há tanta gente que não tem
Rigorosamente nada
Empurrados pelo sonho de uma vida melhor
Ardendo nos nossos campos
Enjaulados no mísero espaço onde dormem
Injuriados
Na vã calúnia
Dos que medram pela sua existência!