ESSE MISTÉRIO QUE HÁ EM TI
Contigo
E só contigo
Caminharei, voarei, navegarei
Para todo o lado:
Para a frente
Para trás
Até ao fim do mundo
Qual Sancho colado a Don Quixote
Eu só queria
Que fosses tu a marear
Essa mítica Arca de Noé
Porque, assim,
Teria a certeza que nela iriam navegar
Todos os que lá coubessem
E seriam mesmo todos!
Palavras que são a tua paixão
E com ardor as declamas
E fazem tua divisa
De uma vida centrada nelas
Traze-las inscritas
Nesse teu causticado peito
Que repousa, relaxa adormecido,
Como uma tímida flor
Que se esconde na sombria selva mais húmida
Mas as palavras emergem do teu coração
Que bate, bate, colorido
E sempre arrebatado
Ladeado por essa brandura doce
Os voluptuosos gestos das tuas mãos
E pelo omnipresente espírito altruísta
Como se tu fosses uma imensa árvore reluzente
Onde brilha cada um dos seus ramos
Como se cada um e todos eles
Fossem estrelas
Que nos deslumbram no firmamento
Que acabam por nos comover
Pela distância
E a vastidão do seu brilho
Que para chegar ali
Teve que percorrer tantas galáxias
Senhora
De uma perene voz
Que afaga os sentidos
Naquela harmonia sensual
Que embevece e comove
E não me arrependo de o dizer
Que coisa mais valiosa
Ter-te por perto
Conhecer-te
Como se fosses um desses seres microscópicos
E eu o cientista interessado em desvendar os teus mistérios
Poder apreciar essa tua beleza
Guardada nesse coração
Onde guarneces
Sem subterfúgios
As finas asas
Onde voam as minhas memórias!
Tens aquela paixão dos do sul
As tuas palavras
Parecem as preces
Dos sábios tuaregues
Onde pareces guardar
Todos os mistérios das areias desérticas
E é então,
Sem surpresa,
Que acabas sempre por derreter
Os finos e mudos flocos de neve
Que caem
Que deslizam
Suaves e leves
Na noite polar do hemisfério norte!