FANTASIA
Espero-te
Infinitamente
Apesar de há muito
Me ter circunscrito
A evocar saudosos tempos
Em que tateava
Ao de leve
Os teus finos cabelos
Que caíam
Como indeléveis parreiras
Imperturbáveis a sorver os nutrientes do planalto
Que refrescavam as tardes tórridas dos sucessivos verões
Esvoaçantes em murmúrios ardilosos
Por entre teu rosto adolescente
Onde pontificavam pequenos pontos:
As sardas
Entusiasmado por esse olhar
Que se cruzava com o meu,
Foste tu
A vencedora do prémio
Do Concurso de Vestido de Chita
Acabei perdendo teu rasto
Para
Nunca mais te pôr a vista em cima
Escapuliste-te
Como areia fina por entre os dedos
Acabei
Saltitando de árvore em árvore
Como passarito ferido
Em busca de um lugar de conforto
Um recanto que me protegesse
Das saudades que me consumiam
E acabei
Por me esconder
Estes anos todos
De ti
De todas,
Finalmente reencontrei-te
Num regaço de um dia quente de julho
Debaixo do manto
Da menina que recolhia
Flores bravias coloridas
De sorriso imprudente
Lábios decorosos
Que cheira atenciosamente
Gladíolos
Açucenas
Jasmins
Lavandas
Margaridas
Ou simplesmente a erva-doce
Que se esconde nos inúmeros relvados
Que são pasto do gado
E quando saboreio os seus maviosos beijos
Pareço reencontrar
A sardenta menina
Que não sei se ela existe já
Ou se vive
E sempre viveu
Na minha imensa fantasia!