FOLHA DE OUTONO
Passo a passo
Momento a momento
Me deixo enlevar
Por essa tua humildade
Que, por ser tão genuína e cintilante,
Acaba brilhando eternamente
Como um diamante na minha cabeça!
O teu sorriso
Tão perene
Nestes últimos dias
Acaba por ser na minha cabeça
Flor de nenúfar num lago
Se me Ignoras
Eu ignoro-te
E ignoro o que os demais pensam de si
Se me persegues
Eu persigo-te
E persigo os demais que te perseguem
Resplandeces espontânea na candura da água escurecida
Que célere corre nesse rio
Para te deixar em lugar seguro
Guarida dos peixes do sol de outono mais inclemente
Porta-aviões seguro dos insetos
Que descansam das acrobacias aéreas
E se aquecem ao sol
És sinal inequívoco do outono
A natureza parece que morre
Mas acaba renovando-se
Mas és também sinal do caráter nobre que te inspira:
Morres para deixar as árvores mais leves
Enfrentando melhor as tempestades
Tão habituais nesta época
Mas és também o culminar do ano
Que anuncia
A depressão
Tão nefasta em tantas pessoas
Folhas verdes
Que são paredes
Dos resguardos das aves
Que ali pernoitam
Ali se reproduzem
Numa parte do ano
Folhas castanhas
Que conservam um brilho
A que não resisto
De cada vez que as avisto
Sós ou acompanhadas
Sorrio
Ao ver as folhas caídas no solo
Ao sentir esse odor a terra
Ao captar as cores mais cinzentas do ano
Sorrio
Quando a chuva cai sobre a minha cabeça
Quando sinto que o ano sorri também
E sorrio mais ainda e sempre
Na companhia das variações do trompete
De Theo Croker
Por isso
Sorrio e louvo
Este dom
Que me desassossega a alma
Mas que me dá multiplicidade de cores
Com que vejo o mundo
Loucura, fantasia, imaginação
Que não me deixa esmorecer nunca
E por isso
Hei-de sorrir
Sempre!