FRAGÂNCIA DE LUZ
PARECE TÃO GENTIL, TÃO RECATADA,
Minha senhora quando alguém saúda,
Que toda a língua treme e fica muda
E olhá-la até seria ideia ousada.
Quando ela passa, ouvindo-se louvada,
Benignamente a humildade a escuda,
Tal uma cousa que do céu acuda
À terra, por milagre revelada.
Tal graça ao coração de quem na mira
Está pelos olhos uma doçura a pôr
Que não pode entender quem a não prove;
E dos lábios parece que se move
Um espírito suave e só de amor
Que vai dizendo à alma assim: Suspira.
Dante Alighieri
Pudesse eu ter-te dentro de mim
Para me assombrar pela tua luz
Que vai fulminando os espaços vazios
Onde a escuridão se esconde
Semeias ideias desassombradas
Que nestes instantes de vida que vivemos
São a esperança do regresso das andorinhas na Primavera
E não me canso de pensar em ti
De te admirar
De exclamar
De sentir a pele eriçada
Quando leio a soltura dessas sílabas
Do cuidado que pões nas tuas palavras tão arrumadas
E na fé inabalável que vive dentro de ti
Esse titã que é o teu Deus protetor
Nesse manto de cetim
Amanheces,
Envolta na alvura dessa tua mente,
E sonhas, ainda, porque os teus sonhos são imensos e retemperadores
É com os sonhos que os milagres em ti se realizam
E é pensando neles que segues sempre em frente
Porque mesmo os impossíveis
Depois de sonhados
Podem ser vividos com empolgamento!
Eu na minha suavidade e doçura
Aparto-me das multidões panegíricas
Que esfuziam frases laudatórias
Como os velhos amantes moldavam palavras nos troncos das árvores
Porque assim sentem a sua importância
Acham que contribuem para o nascimento de uma Estrela
Mas a estrela, a existir, está dentro de ti, está dentro de mim,
E não nos buracos negros de umas palavras de circunstância!
A pior solidão
É aquela que sentimos
Quando estamos rodeados de uma turba
Que profere exclamações encomiásticas
E que nunca nos dizem a verdade
Sentimo-nos como os velhos monarcas
Ou os saudosos imperadores romanos
Que viviam rodeados de luxos
Mas longe da realidade
Mas a luz que me iluminou
Cegou-me
Nesta caminhada onde acompanhei
Os teus passos sincopados
Ouvi o som da tua flauta
As palavras ditas,
Cada uma delas,
Como se cada uma delas
Representasse aquele apelo dramático
Da sirene de um farol
Em dias de intenso nevoeiro
Dirigida aos barcos lá longe
Que navegam perdidos
Chicoteados pela força das ondas
Mas um dia ousarei
E ousado serei
Para que a minha ousadia
Ouse alcançar o atrevimento
Nesse dia serei outra vez o feixe de luz
E tu voltarás a ser a energia que me sustenta!