ILUSÃO
Breve passado
Presente que se prolonga
Interminável
Até à eternidade
Futuro
Que mais não é do que
Este longo tempo contemporâneo
Que não se alimenta
Do que está para trás,
Mas porque te quedas, então, nas copas das árvores?
A oscilar
Intermitente
Num equilíbrio perfeito
Longínquo ao pulsar da vida
A admirar unicamente o sol
Que irrompe na alvorada
Que resplandece durante o dia
Que se oculta tenaz e lentamente
Quando a noite desce na suavidade
De um dia de cada vez?
A vida passa lá em baixo
Mas tu não esmoreces
E mesmo as águas do rio
Que corre ávido de pensamento
São para ti uma recordação apenas
De quando eras jovem
E a vida para ti apenas tinha futuro,
Mas mesmo que não vejas
Nesse altivo e recôndito lugar
Onde pareces querer tocar o céu
Divertida no terraço onde avistas o horizonte
O que o presente lá em baixo
Concede aos que contigo convivem
Deixa-te
Alvitrar
Submersa no silêncio apenas
Interrompido pelo vento que te belisca a alma
Que nunca se esquece de sacudir
Essas pernadas mais altas,
Onde a vaidade nunca esmorece,
Deixa-te
Pois
Quedada na soleira dos dias
A vislumbrar essa leve contemplação
Que tanto te incomoda:
Testemunhar as vilezas da alma
De algumas existências!
Mas tanto te agarras a esse limbo altivo
Que já não vislumbras a terra que te alimenta
A erva
Pasto de tantas espécies
A água
Que irradia alento
Ao pulsar da cidade
Lá em baixo
Que se basta a si própria
E que olha para as árvores
A contemplar unicamente
O grosso tronco que as sustenta
Mas um dia descerás do pedestal
Onde em certos dias revestes as ausências
Do que deixaste para trás
Reverberas o trilho que te acompanhou
E sem mediação
Do Omnipotente
Mas acompanhada pelas tuas preces
Revês-te
No que a vida te concedeu
Amaste o que pudeste amar
E sem que te deixasses equivocar
Pela vã trincheira de uma sedução;
Para ti só existe o transcendente
Deixa-me, ao menos, mostrar
As linhas cavadas nas serras
Onde homens poderosos
Plantaram as mais exultantes castas de uvas
Para que todos os anos o vinho jorre dos lagares
E te dê o encantamento de uma ilusão
Que a vida tanto teima em não te mostrar!