LAS PAMPAS
Inclino-me
Firmo-me
Fundo-me
No equídeo em que vou montado
Agarro-lhe na crina
E cavalgo siderado
Por estas paragens a sul
Tento acalmar o meu fogoso rapaz
Falo-lhe o idioma em que eu raciocino
Mas ignoro se ele o entenderá
Melhor seria falar-lhe
Em espanhol
Em inglês
Em guarani
Cavalo Pampa
De pelo escurecido
Matizado de manchas esbranquiçadas
Galga
Para encurtar a distância
Na planície sem fim
Que me desafia
E inquieta
Pela manhã
Cedinho
Ainda o silêncio impera
E é sepulcral
Bebo,
Debaixo daquela névoa que a planície alberga
E que parece atraída pela paixão
Do pulsar das terras mais a sul,
Uma dose de mate esverdado
Que tem tanto de mágico:
Dar-me-á
A paixão de um argentino
Os olhos de um gaúcho
O coração de um guarani
O meu corcel
Me mira com desconfiança
Mas inflexível e orgulhoso
Não cede às minhas tentações
Nem equacionará as minha dúvidas
Decepará furioso a erva
Nos sucessivos descansos
Que fará
Nesta cavalgada sob o este manto verde
Que se espraia à minha frente
Que parece ter sido rendilhado
Por puras mãos de mestre
Nesta planície onde cresce
De forma viçosa e esfuziante
Ao longe avisto uma multidão
Los reys de las Pampas:
El ganado vacum
Que aceitam este seu destino
Para poderem desfrutar desta paisagem
Deste céu aberto e rasgado
Sem fim
Coroado de estrelas cintilantes
E do odor permanente a erva fresca:
O seu mate!
Nesta liberdade
Escassos são
Os que dela conseguem desfrutar
E ter-te
Ó liberdade
Ali na palma da minha mão
É um privilégio
Uma bênção
E galopar, galopar, sem fim
Ou, subitamente,
Deter o passo
Para admirar de perto
A flor amarelada
Que interrompe a imensidão esverdeada
Que inunda, pletórica, a planície
Como se fosse o Atole de Mururoa
Na celestial Polinésia!