LAS TARDES QUÉ ME ASOLAN!
Todos os dias
À hora do costume
Faça sol
Chuva
Ou um interregno entre uma coisa e outra
Os omnipresentes pardais…
- Que tantas vezes
Testemunhei
De bico escancarado
Nas tórridas jornadas
Da linda cidade de Sevilla
A sonhar com o seu rei poeta Al-Mutamid
A declamar nas margens do Guadalquivir…
Iniciam as tardes
Mergulhando
Nas intrincadas folhas
Suspensas
Nos garbosos braços
Do velho jacarandá
Engalanado
Pelo seu trajo de gala
Servido por exímio manto colorido roxo;
Chilreiam
Agitados
Avolumando-se
Dengosos e celestiais
A debicar-se ternamente
Exibindo grandeza afetiva
Ignorando
O que se passa no mundo
Que nós humanos gostamos de traçar
Mas aos pardais
Apenas lhes interessa a sua segurança
Daí o seu olhar
Apreensivo
Cético
Sério e grave
Com que mimoseiam os Homens!
E eu
Invariavelmente
Todos os dias
Estendo-me
Na companhia do meu fiel amigo
Que jaz deliciado sob as minhas pernas
Enquanto procuro arrumar uma siestazita,
Deliciando-me com o mergulho dos pardais
No mar de águas agitadas arroxeadas
Buscando
A frescura de uma sombra
Ou o aconchego
Nos dias frios de inverno.
Mas os pardais
Parecem-me sempre
Tão felizes
E exultantes
Que dou graças
Em me sentir
Como um destes pardalitos
Que frequentam esta árvore
Amaciada pelo roxo das suas flores
E não como uma dessas aves
Que se refugiam nas grutas
Escuras, frias e medonhas
Onde a depressão se avoluma
E pinga
Como suor
Em dia de canícula!